COM OU SEM LÁGRIMAS
Tento não chorar, pois não quero! Mas meus olhos insistem, o peito transborda de mágoas, a barragem bloqueadora das lágrimas já não suporta o peso delas. Logo explodirá como um barril de pólvora cercado de bananas de dinamite.
O anjo protetor se foi, o abraço fraterno sumiu, a chuva não veio, os rios secaram, a vida ficou desnutrida de amor. Só tem umidade unicamente nas minhas pálpebras, mas essa logo se transformará num dilúvio prantoso, caso certamente prestes a acontecer.
Qualquer sentimento outrora fluindo virou bolor, não há sorrisos nem afagos, foram-se os carinhos, esvaziaram-se as noites de ternura, o mar se rebelou matando todos os peixes, destruindo as praias, invadindo e afogando tudo à sua frente. Não restam nem mesmo os apertos de mão, os laços familiares, nada de nada, rolou tudo alçapão abaixo, os telhados foram levados pelos furações, as par dês derrubadas pela força indomável da ventania.
Permaneceram o clamor e as lágrimas, a tristeza de uma solidão inacabada, uma carência insuportável. Daí, por tanto e tanto mais, o berro da alma, a ansiedade por chorar. E chorar horas e horas, molhando sofares, umedecendo lençóis, lavando o rosto com o sal do pranto. Por que o disco voador não me carregou após o sumiço do anjo protetor? Ir para o espaço não seria a melhor solução. Vou abrir a única porta que ainda resiste e navegar na poeira em busca de outros horizontes, com ou sem lágrimas. Se existirem.