UMA MORTE BASTANTE ESTRANHA
Rute Mota amanheceu morta com um punhal cravado no coração. O marido tinha viajado no dia anterior para a capital, portanto, a princípio, não poderia ser o assassino. Pelo menos essa foi a conclusão no início das investigações, confirmada pela empresa onde ele trabalhava sobre sua viagem a serviço, que também declarou por seu diretor a presença dele na reunião da noite anterior ao crime e que logo cedo já cumpria compromisso juntamente com os demais colegas de trabalho.
Assim, restava enveredar por outra lógica investigativa e aventar outras hipóteses e possibilidades. Ademais, o punhal não foi levado pelo assassino, então certamente poderia haver digitais. Por outro lado, baseado no testemunho dos vizinhos, nada de anormal como gritos, barulho de luta ou confusão não foi percebido. A noite foi silenciosa. Nem mesmo o macaco que vez ou outra aparecia pelos telhados não fora visto, além do mais, o bichinho era dócil e querido por todos. Nenhum estranho foi relatado nas proximidades. Então, quem foi?
Mas o punhal estava lá, alguém o enterrou no coração de Rute. A perícia, por conseguinte, fixou-se nessa evidência, descobrindo no cabo, onde acharam um pelo, traços nada semelhantes a uma digital. Por mais que examinassem por todos os ângulos, o único indício eram os traços estranhos. E o pelo. Este foi levado para outro laboratório com vistas a uma análise mais apurada, tendo sido chocante concluir através do dna que era de um macaco. Levaram um cão farejador ao local do crime, depois de fazê-lo sentir o odor do pelo. O animal ficou extremamente agitado ao farejar o lençol da cama, começou a latir na direção da cama e do telhado, saindo a seguir em louca disparada e parando sob uma árvore ali perto, onde latia sem parar. Ouviu-se um guincho, seguido do balançar de galhos e agitação de folhas, mais ruído de algum animal apavorado, e logo, de súbito, um macaco delineou-se no vislumbre dos policiais, no galho mais alto. Acalmaram o cão farejador, levando-o para longe para alívio do macaco. Foi necessário trazer um veterinário armado com tranquilizante, somente assim puderam levar o animal para ser examinado.
O dna do macaco era o mesmo do pelo no punhal. Mas a pergunta ficou no ar: foi mesmo o macaco que matou Rute?