ESSE AMOR MORTAL

O dia mais difícil de minha vida foi quando ela, que já havia dito não haver volta, arrumou as malas com os pertences dela, não disse uma só palavra enquanto fazia tal atividade, a mãe dela veio para ajudá-la, e ela, cabisbaixa, arrastou as duas malas, sob o meu olhar de tristeza e amargura pela perda iminente, alcançou a porta onde a mãe a esperava também silenciosa e saiu. Sem olhar para trás.

Eu, inerte devido ao peso de sabe-la indo embora, segurando as lágrimas para a vergonha, se assim fosse possível, ser menor do que realmente era, acompanhava cada passo da mulher que mais amei e ainda amava, pensando numa maneira, qualquer uma, de fazê-la ficar, pensar melhor e não ir, nunca mais alimentar a ideia de por fim ao nosso grande amor. Como? Tudo me fugia, os pensamentos, os sonhos, os argumentos, as mais simples palavras. Só a vontade de chorar enchia meu peito.

Ela e a mãe entraram no elevador, fiquei à porta do apartamento olhando e segurando as lágrimas, louco para correr atrás dela, segura-la, pedir que reconsiderasse sua decisão. E ficasse. Mas não, faltou coragem, energia, disposição, sei lá, tudo que me impulsionasse à súplica. Naquele momento tão decisivo se minha vida, só o que eu pensei quando o elevador se fechou e desceu foi: " A minha felicidade foi embora". Entrei no apartamento, sentei no sofá, marretei a represa que impedia o fluir das lágrimas, houve uma explosão no meu peito e chorei como nunca antes.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 29/09/2022
Reeditado em 29/09/2022
Código do texto: T7617049
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