O HOMEM MAIS TRISTE DO MUNDO
Fiquei tão chocado e perplexo ao ver o pobre homem sentado sozinho na praça ensolarada e deserta, a visão dele olhando o nada e estremecendo em ondas curtas de absoluta depressão, que a primeira impressão a vir-me à mente foi de que a mais imperfeita tristeza, o acabrunhamento mais profundo e arrepiante tinha se tornado humana.
Parei o carro, vislumbrando-o de longe para não ser percebido. Então pude contemplar a profundidade tocante de alguém transformado num oceano de infelicidade. Maltrapilho, um tanto calvo, olhos cavos e horripilantes, a pele do rosto seca como lixa velha, tudo nele causava dó. Mas o olhar dele, aquele olhar sem brilho e sem destino, foi o quadro mais tétrico jamais visto antes por mim. Não parecia humano, lembrava o mais empírico sobrenatural indescritível.
Talvez estivesse chorando, de minha distância e perspectiva não foi possível afirmar, todavia isso nenhuma importância tinha pois ele era o próprio choro em pessoa, o pranto personificado gente, a amargura em figura humana. Como já comentei, se ele derramava lágrimas não sei, mas eu chorei, soquei o painel do carro, quis gritar a dor dele por meu intermédio, suplicar consolo para aquela alma morta em vida, protestar contra todas as injustiças sofridas por quantos estão no abandono.
De repente ele se levantou cabisbaixo, derrotado, a sombra de um homem vazio, caminhou devagar, ombros caídos, indo na direção de um Corolla. "Ele vai esbarrar no veículo", pensei assustado. Mas para meu grande espanto, o sujeito simplesmente tirou a chave do bolso, apertou o controle, abriu a porta, entrou no carro e se foi.