O ENFORCAMENTO

Ele a amou, ou amava. Talvez, também poder-se-ia dizer, nunca a amou, seu coração não sabia muito bem que tipo de sentimento tinha por ela. Mas sem dúvida, algo o atraiu para ela de forma bastante gigantesca e disso ele não pode escapar. Ou não quis. A bem da verdade, ele não logrou ganhar tempo para conhecer outras garotas, a vida foi rápida demais com ele. Da mesma forma o casamento, os filhos, o passar dos anos. Então acostumou-se, conformou-se com a ideia duma velhice rabugenta juntos, de tolerância mútua porque não havia nenhuma outra alternativa.

Até se encantar por uma mulher linda e mais nova, que ria de tudo, era divertida, jovial, contudente em beleza e jovialidade. Essa nova realidade foi sentida em seu corpo e se imiscuiu em sua mente, levando-o ao sonho de reviver a juventude de outrora. A tal garota devolveu a ele a alegria perdida que há muito buscava.

Naturalmente certo dia a esposa descobriu e fez o maior escarcéu, chorando, se descabelando, denunciando-o aos filhos e, como último recursos, optar pelo suicídio caso ele não pusesse fim ao caso ridículo de amor de velho com uma mulher jovem demais para ele. Todavia, era justamente por ela ser jovem, bela, atraente, animada e feliz o tempo todo que ele caíra de amores e desejos. O pior, ou talvez o melhor, recebia dela receptividade a esse renascimento amoroso em seu coração.

Apesar das ameaças da esposa de se matar, havendo ocasiões em que ela punha uma corda no pescoço enquanto chorava e, várias noites, dormia tendo a corda debaixo do travesseiro, ele não se comoveu, nunca desistiria do novo e maravilhoso amor. De tal forma que, numa noite avisou que dia seguinte iria morar com a garota. Aos prantos, a esposa foi buscar a corda e a colocou no pescoço, não o demovendo no entanto da ideia de deixá-la. Ela ficou com a corda no próprio pescoço até ele adormecer. Ele nunca mais acordou, pois a esposa ao invés de se matar, enforcou-o.