QUANDO DECIDI MORRER

No dia em que decidi morrer refleti sobre a importância de deixar contas pagas, agendar as por vencer, fazer pequenos bilhetes de despedida com pedidos de desculpas por ir por minha própria conta e ressaltar o amor que sinto pelos que também me amam e provavelmente sentirão minha falta.

Arrumei a casa, escrevi os poucos bilhetes, coloquei-os em envelopes destinados aos meus amigos e familiares, lavei as roupas sujas, desliguei os pluga de todas as tomadas, respondi as mensagens vindas pelo whatsapp, abri o aplicativo da instituição financeira onde tenho conta corrente para quitar os débitos e contas de água e luz, verifiquei se tudo estava em ordem, inclusive tirando a chave da fechadura para Sandra, minha namorada, que tinha cópia da chave da casa, encontrar o meu corpo quando sentisse a ausência de respostas aos seus telefonemas e mensagens. Ela sempre se preocupava se eu demorasse mais de três horas para dar notícias.

Após tudo pronto e em dia, deitei na cama com uma garrafa cheia de água e o vidrinho contendo os trinta comprimidos. Abri os dois recipientes, olhei para o vazio, lágrimas desceram por meu rosto, o coração disparou e minhas mãos subitamente enrijeceram. Fiquei sem movimentos, os pensamentos a mil, recordei-me dos meus dias se oração, dos hinos cantados em louvor a meu Senhor e Salvador Jesus Cristo, e foi nesse preciso momento que ouvi uma voz dizendo: "Meu filho, não faças isso, eu sou contigo!"

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 03/09/2022
Código do texto: T7597649
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