O GATO SINISTRO

Nunca tive animal de estimação, gato ou cachorro, porque além do trabalho, cuidados, despesas etc, faltava algo mais empírico, algo que me inclinasse a trazer para a minha vida um bichinho que em tudo dependeria de mim. Então, amando a liberdade de poder sair a hora que desejasse sem ter de levá-lo comigo ou deixá-lo na desesperada tristeza da solidão, talvez latindo ou miando até eu voltar, optei pela não adoção.

Por isso, assustei-me quando certa noite acordei e, com o espanto da inesperada surpresa, vi um gato em cima do guarda roupa me olhando de forma aguçada e firme, os olhos verdes brilhando como duas tochas na escuridão. Saltei da cama impelido pelo assombro, caí, levantei, e ao olhar novamente em busca do gato, ele tinha sumido. Procurei em todos os cantos do quarto, à toa, porque não havia nenhum rastro dele. Voltei a deitar e dormi depois de algum tempo matutando sobre o assunto.

Foi pior. Sonhei com o estranho bichano me olhando em silêncio. Despertei alarmado e suando muito. Estranho, porém, pois lá estava o gato sobre o móvel novamente, apenas me olhando. Saltei do leito, acendi o abajur e voltei-me para o animal. No ato de me virar para iluminar o quarto, tinha desaparecido mais uma vez. Agora sim, o estarrecimento tomou conta de mim, o tremor dominou meu corpo, quase me sai o coração pela boca, tão disparado a mil se encontrava. O que seria aquilo? Saí procurando por ele mais uma vez, apesar do grande medo só fato parecendo sobrenatural, mas de novo em vão. Desta feita não dormi mais, como poderia se o pavor se apossara de mim? Passei a noite toda com o abajur aceso, olhando para o guarda-roupa aguardando aquela coisa voltar, embora no íntimo não quisesse. Ao amanhecer, abalado com o difuso acontecimento, levantei e fui para o banheiro. Arrepiei-me completamente e dei um grito de horror ao avistar, no chão, o dito gato. Morto.