A MISTERIOSA MORTE DE RUI
O turno de Rui na fábrica de óleo de oiticica era sempre à noite, juntamente com o vigia. Enquanto Rui alimentava uma imensa caldeira com os produtos que ferviam sobre o enorme fogaréu transformando o ambiente numa verdadeira fornalha, com calor de cinquenta graus, o vigia fazia a ronda.
Corria à boca pequena pela fábrica, durante o dia, um zumzumzum botando que Rui andava de chamego fugidios com a mulher do vigia. Nada comprovado, a bem da verdade. Mas quando essas fofocas maldosas permeiam o local de trabalho e praticamente todos falam a respeito com risinhos irônicos, a coisa atinge as raias da humilhação para quem é alvo de algo da espécie.
Para alcançar a caldeira, levando nos ombros um saco com sessenta quilos de Oiticica, Rui subia a escada alta várias vezes durante seu turno, despejando o conteúdo para a fervura. Ali a temperatura alcançava níveis desumanos, além do mais a possibilidade de ele cair na caldeira estava presente a cada subida e ato de despejar o conteúdo do saco. Ele tomava muito cuidado, mas o perigo era sobremodo evidente.
Na manhã seguinte de sua última noite no trabalho altamente perigoso, o corpo de Rui foi encontrado absolutamente torrado dentro da caldeira. O colega que fazia o mesmo serviço no turno da manhã foi quem o encontrou quando foi jogar na caldeira as matérias primas utilizadas para a fabricação do óleo. Ele soltou um grito tão alto, mais parecendo um urro desesperado, que arrepiou os cabelos dos demais trabalhadores daquele horário. A polícia foi chamada, abriu-se um inquérito, o vigia e todos os demais foram interrogados, investigados e esmiuçados, contudo ninguém teve coragem de relatar aos policiais sobre o boato a respeito dos possíveis chifres colocados pela mulher do vigia com Rui. O caso, então, foi arquivado como acidente de trabalho. Teria sido mesmo?