O MISTÉRIO DA CASA INVADIDA
O ladrão nem imaginava estar invadindo na escuridão da madrugada o sagrado lar de Tonhão. Destelhando parte do telhado silenciosamente, conseguiu entrar na casa para furtar coisas de valor. Armado com uma imensa faca afiada, sentia-se seguro para ameaçar quem se metesse em seu caminho caso alguém acordasse.
Mas ele acabara de cometer o grave erro de invadir a casa da família de Tonhão, conhecido na cidade como um homem destemido que jamais ouvira desaforo de alguém sem dar o troco devido na mesma moeda, ou, até, em dobro. Tonhão não dava carne a gato, não tinha medo de cara feia nem respeitava grito.
Para infelicidade do meliante, Tonhão acordou ouvindo o pouco barulho feito por seus esbarrões no escuro. Sentou na cama, apurou o ouvido e concluiu que havia um ladrão na sua sacrossanta casa. E Tonhão, meu povo, dormia com o facão debaixo da cama, de onde o tirou e, segurando-o com firmeza, saiu em busca do atrevido.
Encontrou-o na sala ao acender a luz. Tomado pela fúria, urrando feito uma fera, partiu para cima do intruso. Este, logo após a luz ser acesa, sacou de sua faca disposto a enfrentar aquele "merdinha" que se achava valente só porque tinha o facão na mão.
Foi uma briga de gigantes, um ferindo o outro no braço, nas pernas e onde pudessem atingir o adversário em algum ponto letal. Ouviam-se impropérios, gritos de raiva e de dor, sangue espirrando nos móveis e no chão, cadeiras caindo e o rugir da fúria de ambos. A isso juntaram-se os gritos de pavor da esposa de Tonhão, acordada com o barulho, que permaneceu de longe presenciando o acontecimento e temendo pela vida do marido. Mas o marido dela era o Tonhão.
A briga dos dois homens continuava, já se via sangue espalhado, móveis derrubados, cortinas rasgadas, sofás furados, suor pingando, um e outro tentando de qualquer jeito matar o outro. O facão e a faca brilhavam do sangue fresco. Súbito o ladrão deu um salto na intenção de enterrar a faca no pescoço de Tonhão, mas ele desviou no exato momento sepultou o facão inteiro no abdômen do ousado, atravessando-lhe o corpo e jogando entranhas para todos os lados. O sujeito caiu arquejando, a faca avermelhada ainda na mão, e Tonhão aproveitou a agonia do cara para partir-lhe a carótida com um golpe certeiro que quase decepou a cabeça do invasor. Que morreu instantâneamente. A mulher de Tonhão correu até ele e o abraçou, sujamdo-se se sangue. Cansado do entrevero, mas satisfeito por livrar-se do inimigo, falou para ela: " Ligue para a polícia."