UM TIRO NA INDECÊNCIA

Quase todos da cidade conheciam o namorador de Fusca. Baixinho, maltrapilho, sujo e malcheiroso, andava pelas ruas levando um fusquinha de brinquedo, o qual tratava com excessivo carinho e devoção. Quando lhe perguntavam a respeito do brinquedo em suas mãos, dizia todo feliz que era seu filhinho.

Ninguém sabia seu nome ou origem, apareceu de repente na cidade e foi ficando, encantado com a grande quantidade de fuscas, os quais chamava de suas namoradas. Esperto, ficava de tocaia até a saída do motorista, que ia resolver suas atividades no centro, e tão-logo sentia segurança, ia pé ante pé, abria a braguilha, retirava a "ferramenta" e se debruçava sobre o carro,mesmo que o dia estivesse bastante ensolarado e o capô muito quente.

Com o ar de loucura no rosto sorridente, hígido, agarrado ao fusca, cavalgava excitado, gemia, aumentava a intensidade do golope - muitas vezes sob o olhar horrorizado dos passantes -, o desejo aumentado, a excitação ao máximo e, por fim, a ejaculação. Satisfeito, fechava a braguilha e ia embora feliz da vida.

Muitas vezes os donos dos fuscas o flagravam no ato obsceno, pondo-o, furiosos, para correr sob seus protestos enraivecidos. Ele odiava ser interrompido durante o "namoro", por isso ameaçava, xingava, jogava qualquer coisa no proprietário dos carros e saía em busca de novas oportunidades para "amar suas mulheres" de quatro rodas.

Um dia, vendo o absurdo da cena sobre seu automóvel, o cidadão sacou a arma e atirou apenas uma vez, atingindo-o na cabeça. Ele urrou de dor, amoleceu e escorregou lentamente até o chão. Morto.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 08/08/2022
Reeditado em 08/08/2022
Código do texto: T7577905
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