Tempo esgotado
Maya King acordou confusa ao segundo toque do telefone, na mesinha de cabeceira ao lado da cama. Ao lado do aparelho telefônico, o radiorrelógio digital marcava duas da manhã, em grandes números vermelhos. Quem estaria ligando? Maya resolveu atender.
- Alô?
- Mamãe? - Replicou uma voz de criança.
- Eu não tenho filhos - Maya estava prestes a desligar, quando a voz a deteve:
- Amaya. Meu nome é Amaya; você sempre disse que, quando tivesse uma filha, se chamaria Amaya. Sou eu!
Maya ficou em silêncio, deitada de costas na cama imersa na escuridão do quarto, os olhos voltados para o teto, receptor pressionado contra a orelha.
- Como pode ser isso? - Indagou finalmente. - Quantos anos você tem? De onde está falando?
- Tenho 9 anos - prosseguiu a menina - e estou ligando do laboratório. Me deixaram falar com você por cinco minutos.
- Laboratório? - Repetiu Maya intrigada. - Qual laboratório? E por que apenas cinco minutos?
Amaya omitiu a informação principal.
- A tecnologia ainda não está muito desenvolvida, foi o que me disseram; mas também estão com medo de que eu fale alguma coisa com você que mude o futuro. Por isso, o tempo curto.
Para Maya, tudo aquilo parecia uma completa loucura. Mas a voz da menina deixava transparecer verdade.
- Se você é mesmo minha filha e se está falando do futuro, daqui a quanto tempo você vai nascer?
- Eu não sei bem... não sei que idade você tinha quando me teve. Menos de quarenta? Acho que menos de quarenta... desculpe se não posso lhe ajudar muito nessa parte.
- Mas... se você me ligou, deve ser para falar sobre alguma coisa grave, não é? Algo que eu tenho que fazer ou evitar...
E com uma suspeita martelando no fundo da mente:
- Você tem 9 anos... e eu ainda estou viva nesse futuro?
Amaya suspirou.
- Não, mamãe. Infelizmente, não.
Maya sentiu um aperto no coração. Quanto tempo ainda teria de vida? Ou para conviver com essa filha que ainda não conhecia, mais já amava?
- Mas não se preocupe - foi a curiosa resposta da menina. - As pessoas não vivem tanto tempo assim; eu estou a duzentos anos no seu futuro.
- Como pode ser isso? - Questionou Maya atarantada.
- Eu fiquei duzentos anos congelada, mamãe - prosseguiu Amaya. - Só agora descobriram a cura para a minha... doença. E hoje é o meu aniversário, então... pedi para falar com você. Para dizer que não se preocupe, pois eu vou ficar bem.
Maya ia dizer alguma coisa, mas um bip-bip insistente começou a se ouvir ao fundo na ligação.
- Mamãe, é o sinal para desligar. Lembre sempre que eu te amo!
A ligação caiu. E Maya ficou ali inerte, olhos arregalados, sem saber se aquela experiência fora real ou alguma alucinação. Finalmente, sentou-se na cama e colocou o receptor no gancho, maldizendo não ter tido tempo de fazer uma última pergunta: quem era o pai de sua filha?
- [30-07-2022]