O DOCE ABRAÇO DA MORTE
Todos os dias Ronaldo olhava o poço fundo do quintal de sua casa. Ali passava horas, e só ele mesmo sabia o que se revolvia no turbilhão de seus pensamentos. Vinham lembranças, brotavam tristezas, caíam lágrimas, explodiam paixões, gritava o silêncio da solidão.
Tudo combinava para sua angústia. Em sua vida faltava tudo, principalmente amor, carinho, companhia, sorrisos, abraços, vozes humanos cheias de calor. Lá no fundo do poço ele encontrava tudo isso, e uma voz doce o chamava eivada de suavidade.
O fundo do poço parecia ser seu amigo, ou pelo menos queria ser. A um só tempo Ronaldo chorava, sorria e conversava com o fundo do poço. Algum tempo depois, entrava em casa e se desmanchava num choro convulso.
Até que, certo dia, tamanha foi a serenidade com que o fundo do poço o chamou que ele não resistiu. Seu abraço ao fundo do poço foi o mais longo e confortável que ele jamais havia dado e recebido.