O INESPERADO NA PONTE
Lá embaixo águas turbulentas, do céu caía uma chuva fina mas intermitente, os carros passavam cautelosos sobre a ponte indo e vindo e alguns poucos pedestres, usando capas ou segurando guarda-chuvas ☔, andavam a passos apressados.
Algo, no entanto, destoava dessa cena na manhã invernosa: um homem solitário, recostado no parapeito da ponte, olhava a correnteza caudalosa e suspirava, o olhar triste de quem desistiu de tudo, o coração acelerado, os pensamentos a mil. Um motorista o avistou e buzinou como se quisesse avisá-lo do perigo, o que não assustou o indivíduo perdido nas catacumbas de sua visível amargura.
Súbito, como se acabado de decidir por definitivo, subiu na proteção da ponte, ouviu a própria alma gritando de agonia, as batidas cardíacas no máximo, vários motoristas agora já acionando a buzina e muitos deles gritando na intenção de demove-lo do ato que certamente ele estava prestes a cometer, e, ultrapassando todas as fronteiras da sensatez, saltou para a morte no gigantesco aluvião de águas tormentosas.