Prefácio sombrio...
Essa vida maldita começou há cerca de três anos. Começou-se com terríveis pesadelos... horríveis, e paralisia do sono constantes, daquelas de ferrar com a gente! Quando conseguia acordar, era um alívio; isso depois de muito custo, muito esforço, ao tentar com todo afinco mover pelo menos um traço mínimo de músculo de meu corpo comprometido para sei lá o que! E depois de finalmente desibernado, suor... muito suor. A minha transpiração estava pior que o Rio Nilo em época de cheia, e meus batimentos cardíacos mais acelerados que a de um noiado de biqueira usando crack numa quebrada do Primavera. E tudo isso se persistiu por três longos anos... três longos anos! Mas essa noite foi diferente!!!
Nesta noite, foi onde aconteceu a cagada! O ingresso só de ida pra merdolândia. Mas antes de entrar em detalhes específicos, devemos voltar no tempo, mais especificamente dizendo as 19:47; lembrar daquela criança.
Lá estava eu, saindo do supermercado. De repente, uma criança, de mais ou menos uns seis ou oito anos, tanto faz, decidiu atravessar a rua correndo, sem olhar para os lados; e ao mesmo tempo, vinha um ônibus. A colisão seria frontal, e certamente se aquela criança não morresse, provavelmente iria ficar muito machucada... muito mesmo! Foi onde num ato de desespero, salvei a mesma de ser atropelada pelo busão da Nalpiv. Foi tudo muito rápido!
Acordei desmaiado, uns cinco minutos depois, no mesmo local onde presenciei tal cena desesperadora. Porém, a criança estava do outro lado da rua, assustada, chorando, mas em segurança, ao lado da mãe. TODOS ali presentes estavam aliviados pela criança ter sido salva por sei lá o que! Pera aí... sei lá o que? O que salvou essa criança!? Percebi também que TODOS me encaravam: alguns com olhares perplexos, outros com dúvidas, outros por... vai saber lá o que?!?!
A única coisa que sentia naquele momento era alívio e uma puta dor de cabeça que repentinamente começou a me infernizar depois de tal ato. Mas o que aconteceu de fato?
Uma das testemunhas disse que quem salvou a criança tinha sido eu mesmo. De alguma forma, eu consegui transportar a criança do meio da rua para a calçada, perto da mãe, levitando-a, como se... eu estivesse controlando-a com o poder da mente. Telecinese, pra ser mais exato, eu acho. Lembro apenas dos gritos da mãe e da buzina do ônibus, e depois disso, simplesmente desmaiei. Acordei cinco minutos depois, com aquelas pessoas a minha volta, me olhando, perguntando se eu estava bem! Eu, desorientado, nem respondia. Mas ainda assim, me levantei, peguei minhas compras e vim embora. Não queria saber de agradecimentos, e queria sumir antes da chegada da polícia. Demorou pra poder voltar os neurônios no lugar, mas..., pensando agora com mais calma, no conforto de meu sofá surrado e com minha cerveja ao lado, ficou claro que aparentemente eu tinha despertado alguma habilidade. A criança, incrivelmente levitou da rua até a calçada, ao mesmo tempo em que proferia aqueles estranhos movimentos com os braços no devido momento em que a tragédia, de fato, iria acontecer. Os movimentos ali realizados lembram muito os de um artista que manipula marionetes. Era muito semelhante.
Essa situação me fez lembrar daquela vez em que de alguma forma, algo misterioso salvou uma mulher e seu filho da morte certa. Não posso especificar os detalhes, senão à mídia vai cair em cima, destruindo o meu sossego! E eu nunca gostei de ser o centro das atenções. Mas posso lhe adiantar que quando tal situação aconteceu, imediatamente eu desmaiei e acordei dois dias depois no hospital, sem lembrar de absolutamente nada, fadigado e faminto. Mas o que mais me surpreendeu foi o sono ininterrupto de mais de 48 horas. Nessa ocasião, tive a sorte de ninguém ter filmado, mas dessa vez, eu me lasquei. Também lhe adianto que foi fácil fugir do hospital, na calada da noite.
Agora, perante a esse novo flagrante de sobre-humanidade, passei a andar cada vez mais nas sombras, me expor cada vez menos ao público. Passei a treinar somente nas madrugadas, sozinho! Nada melhor do que aumentar meu poder de luta sob a tétrica lua cheia e a fria solidão de locais esquecidos e abandonados. Não és nenhuma novidade para mim!
Eu sabia de uma coisa: preciso evitar emoções fortes! É o gatilho para despertar estas habilidades. E ingênuo como sou, posso me transformar numa arma de fuga e violência descontrolável.
E em uma data qualquer do ano anterior as merdas recentes, fui treinar a noite no cerrado local. As três da manhã, na famosa hora mágica demoníaca. Foi onde encontrei aquela mulher, a tal Ravena, a bruxa e telepata. Mas tenho certeza que ela é bem mais que isso!
A conversa que tivemos não foi muito agradável, mas não houve violência física, só verbal mesmo. Porém, foi depois que a encontrei que de fato o inferno começou na minha vida. O ataque na W3 que devastou todo o centro da Capital Federal, a cilada no cemitério Campus Eternus, o ataque ao shopping de Taguá... tudo começou depois que essa mocreia apareceu.
No ataque da W3, o que eram aqueles monstrinhos nascidos da terra? Quem os invocou ou criou? 53 mortes confirmadas e mais de 200 feridos, fora a destruição por causa das badernas e das lutas.
A cilada no cemitério Campus Eternus... quem eram aqueles três sujeitos mascarados? Não houve vítimas nessa ocasião, mas a destruição do patrimônio foi foda! Vários túmulos destruídos, cadáveres espalhados por todos os lados, assim como restos mortais e caixões. O mais intrigante é que um dos mascarados conseguia usar necromancia. Que merda é essa?!?!?! O que está acontecendo???
O ataque ao shopping foi o pior de todos! 203 mortes, mais de 500 feridos e muita, mas muita destruição! E graças há tudo isso, agora até mesmo o governo quer a minha cabeça, no mínimo! Caçadores de recompensas a todo momento me perseguindo, querendo me matar! Puta que pariu!!! E eu ainda não matei ninguém, mas tô começando a repensar tal ideia. Mas vamos ver até onde isso vai. Confesso-lhe que minha paciência tá por um fio. Hoje mesmo, estive a ponto de arrancar a cabeça de um caçador de recompensas. Mas na hora, bem na hora de tal fatalidade, lembrei de ti, Rose. Você foi o meu lembrete na hora H da raiva. Graças a ti, eu não me tornei um assassino naquele momento.
CONTINUA...