UM CASO INCOMUM

Depois de um exaustivo dia de trabalho numa indústria metalúrgica, ele voltou para casa muito cansado, mas com o pensamento voltado para a esposa e o único filho de apenas três anos de idade. Ele nunca chegou e foi recebido pela esposa com narrativas de fatos ou mesmo de estranhas novidades a serem ouvidas. Mas naquele dia ele ficou surpreso com uma história repleta de absurdas circunstâncias e de curiosidades quase que fora da normalidade.

- Boa noite! Foi o que ele disse a ela depois de estarem ausentes por mais de dez horas. Mas ela lhe respondeu de um jeito muito diferente, assim lhe dizendo:

- Que boa noite nada! Por pouco, muito pouco, quase que eu não te daria nenhuma boa noite e tu não veria mais teu filho.

Por que, e quê conversa é essa?

- Hoje, à tarde, sai com o nosso filho para fazer uma comprinha para ele; umas miudezas. Mas quando eu já estava na rua, segurando a mãozinha dele, senti algo diferente na minha cabeça e desconheci o lugar onde eu estava indo. Não reconheci absolutamente nada à minha vista. Parei, olhei para todas as direções e achei tudo esquisito, diferente... tudo estranho. Tive a absurda impressão de nunca ter passado naquele costumeiro local. Senti um medo muito grande e resolvi perguntar a um casal que vinha na minha direção:

- Moço, por favor me ajude, estou perdida! Que lugar é esse?

- São Caetano do Sul. Disse-me o homem, se pondo a me indagar, assim:

– Como é o nome da senhora?

Achei estranho ele me chamar de senhora e lhe respondi:

- Não tenho nome.

- De onde a senhora está vindo?

- Não sei.

- E para onde estava indo?

- Também não sei.

- Essa criança é seu filho?

Soltei a mão do menino e respondi:

- Não! Não tenho nenhum filho!

Meu filho ficou um pouco perturbado e passou a repetir a todo instante, assim dizendo: mamãe, mamãe, mamãe.

A mulher percebeu que algo estava errado comigo e disse ao homem que notou que eu estava vindo na direção deles e que, provavelmente, eu morava ali por perto. O homem pediu para eu ficar calma e me levou até a porta de uma lanchonete que havia bem próximo. Lá ele chamou o dono do estabelecimento e contou o ocorrido e logo foi embora com a mulher.

O dono da lanchonete nos mandou entrar e sentar.

Sentei-me num banco e meu filho noutro. E logo veio novo interrogatório:

- Como é o seu nome?

- Não sei.

E a criança voltava a me chamar de mãe assim repetindo: mamãe, mamãe, mamãe.

- Em que rua você mora?

- Não sei.

- Você tem marido?

- Não.

- Como é o nome de seu filho.

- Não tenho filho.

- De quem é essa criança que está com a senhora?

- Não sei. Não conheço.

Os funcionários da casa assistiam a tal cena totalmente boquiabertos como não quererem acreditar no que viam e ouviam. Alguns fregueses chegavam e paravam para nos ouvir .

Passados uns dez minutos daquele confuso diálogo, senti algo diferente (como que saindo de um sonho) e logo voltei a reconhecer tudo ao meu redor e assim exclamei:

- Gente, que horror! Me desculpem. Agora sei onde estou. Moro aqui bem perto, na rua Antonio Bento.

- A senhora deu sorte! Eu já ia chamar a polícia para te ajudar! Disse-me o dono da lanchonete, acrescentando: -

- A senhora quer que eu a leve de carro até a sua casa?

- Não moço, não precisa! Me desculpe por tudo. Muito obrigado.

O marido ouviu aquele relato totalmente silenciado e aturdido ao perceber que a mente humana, envolta à amnésia, disse-lhe que o cérebro humano é capaz de desligar temporariamente a nossa memória.