A MORTE MANDA MENSAGEM

A MORTE MANDA MENSAGEM

No pátio daquela escola de ensino médio, na periferia de uma pacata cidade, não muito distante da capital paulista os alunos já se preparavam para entrar em suas respectivas salas, ao ouvirem a campainha anunciando o início do dia letivo, os docentes se encaminhavam para deixar a sala dos professores e, cada qual se dirigiu para sua determina turma. Tudo estava aparentemente dentro das normas, porém ao retorno do intervalo, Sophia alertou para o desaparecimento de seu celular. Teve início o alvoroço com questionamento e revista nas bolsas dos colegas. Alguns alunos e pais protestaram com tal atitude, ao passo que outros encararam com naturalidade, após se instalar a divergência entre os contra e os a favor, a aula foi encerrada com o desaparecimento do aparelho.

A desconfiança acusações e comentários instalou o caos na sala do 2º C, e justamente o ocorrido foi durante a aula do professor de Matemática Arlindo, tido como um dos melhores professores e querido dos alunos.

Paula acreditava que o autor do furto era o Marcelo, garoto alto, forte, espinhas no rosto, mas o principal motivo é que esse aluno estava sob liberdade assistida, isto é aluno que havia sido detido por ter cometido algum delito, este por sua vez desconfiava do Gabriel, Gabriel passou a suspeitar da Shirley, até a Angélica, aluna de pouca conversa educada e dedicada não passou incólume. Após dois dias do sumiço do celular ao regressar para casa Sophia foi cercada por alguns jovens que a estavam forçando a entrar em um carro azul, quando o ato parecia consumado, Sophia viu surgir de repente o Paulão, rapaz de porte físico bem definido, com alguns socos empurrões e ponta pés, livrou a menina das mãos de seus algozes.

Paulão era o tipo de aluno que sentava lá atrás, junto à parede, tinha algumas tatuagens, caladão de poucos amigos, de pouca conversa, mas observava toda a sala. Paulão e Sophia não nutriam boa amizade, raramente se falavam e, foi justamente ele quem livrou a garota de provavelmente um mal maior.

Passado o susto e agradecimentos por parte dela, o rapaz sugeriu acompanha-la até sua casa para garantir sua segurança, após esse ocorrido tornaram-se mais próximos, todos os dias o caladão acompanhava a menina na ida e vinda da escola, ela por sua vez optou por não relatar aos pais nada do que havia ocorrido.

Aos poucos, mas de forma sutil, Paulão começou a questionar Sophia o motivo de aparentemente ser sequestrada, a garota inicialmente se esquivava, mas, não havendo outra saída, precisou explicar para o novo amigo que ela acreditava que o furto do celular, devia ser o motivo. Demonstrando uma curiosidade normal, o rapaz se mostrou incrédulo de além de ser vítima de furto ainda ser ameaçada e intimidada. Sophia foi obrigada a revelar para o Paulão que no celular dela, havia “coisas” que não poderia vazar para ninguém, por poder comprometer algumas pessoas dentro e fora da escola. Paulão não era um rapaz que fizesse com que as meninas suspirassem por ele, mas a proximidade de ambos favoreceu ao início de uma “amizade” mais próxima, surgiu o primeiro beijo e logicamente a troca de algumas carícias mais ousadas em decorrência do rapaz demonstrar preocupação, compreensão, companheirismo nesse momento difícil pelo qual Sophia esta transitando. Mas a menina apesar de apenas dezesseis anos, sabia como agir nessas situações e, não permitia que o rapaz avançasse muito.

Para surpresa e espanto de todos, Margarida, menina bonita, atraente, um pouco saliente, foi dada como desaparecida pela família após ter ido ao cinema no sábado com alguns amigos. Ninguém que esteve com ela soube dar alguma informação relevante. Quando o Jaime foi encontrado morto em um terreno abandonado, todos ficaram apavorados, uns suspeitando dos outros. Não é possível haver tanta coincidência que dois alunos da mesma sala, fossem vítimas em menos de quinze dias.

A Marcia que andava “se esfregando” com o Fernando, limitou a ir de casa para a escola e vice versa, todos passaram a tomar as devidas precauções, só andavam em grupinhos. O pânico se instaurou entre os jovens quando foi a vez da aluna Rogéria do 3º B ter seu CPF cancelado na semana seguinte. Diante de tantas “baixas” Paulão foi direto ao assunto sem rodeios. Olhando nos olhos da menina Paulão perguntou... os três que foram “abatidos” estavam nessa trama do seu celular, fale a verdade Sophia...A moça apenas balançou a cabeça de forma afirmativa com os olhos mareados. Sophia e quem mais da nossa escola está envolvido? Desculpe, mas não posso falar, é muito perigoso, foi a única resposta que teve da estudante antes de entrar em casa.

Quando Rafaela do 3º A se tornou mais uma vítima em um espaço de tempo muito curto, menos de dois meses, foi a gota d’água, Paulão segurou forte a menina pelos ombros exigindo que ela fornecesse a lista dos propensos envolvidos. Sem alternativa a garota forneceu o nome de mais uns 8 ou 10 colegas, que Paulão anotava em uma folha de caderno, juntamente com os endereços, inclusive o nome de alguns que não estudavam nessa escola.

Entre essas pessoas quem você acredita ser o próximo? A garota entre prantos respondeu, como vou saber? Mas acredito ser o João e o Claudemir que moram logo após o final do asfalto da avenida, pouco antes da ponte. Então deixe seu material na sua casa e, vamos avisar esses rapazes. Aguarde um pouco que antes preciso ir ao banheiro disse Sophia ao Paulão. Minutos após ambos se dirigiram a uma região mais afastada do bairro. Próximo do final da avenida, notaram uma aglomeração na rua, devia ter acontecido alguma coisa fora no habitual, realmente aconteceu, houve um atropelamento, um carro azul que se evadiu, foi tão rápido que ninguém sabia dizer que marca de veículo e muito menos a placa, foi apenas o suficiente para ceifar mais uma vida, Claudemir. Esse rapaz não era aluno da escola nem seu irmão João desaparecido há três dias, como não eram alunos da escola, os demais não sabiam de seu desaparecimento.

Diante de tais acontecimentos, Sophia quase desfaleceu, precisou ser amparada pelo Paulão, não era possível que tantos jovens tivessem suas vidas ceifadas, apenas por constar em uma lista no celular da menina. Sophia estava desnorteada, sem chão, sem saber o que fazer e a quem recorrer a jovem se sentia culpada por tal fatalidade.

Em virtude do estado de choque da jovem, resolveram entrar em uma lanchonete para tomar um refrigerante e se acalmar. Comeram um lanche quando Paulão disse a Sophia que precisava ir ao banheiro. Pode ir disse a moça te espero aqui na mesa. Passado alguns minutos, Sophia decidiu também ir ao banheiro que ficava um do lado do outro, para sua surpresa e estarrecimento, Paulão falava com alguém no celular.

Calma doutor, estou fazendo tudo que posso, mais um já se foi, faltam poucos, sei que o Sr. Está sendo chantageado por alguém, como é que a gente ia supor que a Camila, a primeira que desapareceu ia passar essas mensagens para a Sophia, sei que essas imagens são seriamente comprometedoras, mas consegui arrancar da babaca da Sophia a lista de todos que podem te comprometer, eu sempre cumpri meu papel, nunca te decepcionei, eu também estou seriamente envolvido por ser a pessoa que “ajeitava” esses otários para o Sr. Fique tranquilo que após resolver tudo, a gente vai se livrar dessa otária Sophia.

Sophia precisou morder os lábios, tapar a boca com a mão ao descobrir que seu “grande e novo “ (amigo protetor) estava envolvido até o pescoço, era ele quem agenciava os incautos jovens para as “festinhas” regadas a muito álcool, drogas e orgia sexual, para o velho e conhecido de todos, vice prefeito. Ninguém havia percebido que a Camila havia filmado em seu celular essas orgias e posteriormente passado para sua melhor amiga a Sophia.

Sem fazer ruído Sophia saiu do banheiro e dirigiu-se rapidamente sem que o Paulão notasse para a delegacia da cidade, enquanto acompanhada dos pais prestou seu relato ao escrivão, ficou surpresa ao ver a entrada do João, irmão do Claudemir morto no atropelamento. Ele não estava desaparecido, apenas escondeu-se na casa de uma tia em uma cidade próxima, com medo de ser mais uma vítima, Camila que era prima também havia enviado para o João as filmagens da orgia. Antes de o vice-prefeito ser detido, toda cidade com espanto tomaram conhecimento sobre o Paulão, atropelado pelo trem cargueiro que cortava a cidade. Ninguém ficou sabendo quem estava chantageando o vice- prefeito, não sabemos se ele era uma pessoa entre as vítimas ou se optou por ficar quieto em seu canto.