O corvo
No vigésimo quinto andar, ficavam os escritórios da firma de advocacia Giordanos & Associados, naquela hora, naquele exato momento encontrava-se ali apenas e tão apenas o Bruno, recém formado pela Universidade de Direito do Metropolitano. Bruno achou estranho que nenhum dos seus colegas chegara, era o seu primeiro dia de trabalho, o horário era aquele, isso ele estava certo, os funcionários da limpeza e do cafezinho tampouco também dera as caras. O que terá acontecido, pensou?
Sua sala, isso era visível para qualquer um que entrasse ali, era a melhor de todo o andar, com a melhor vista, quando assinou o contrato fizera questão de deixar isso explícito. Acionou o puxador da persiana e a paisagem de uma manhã já muito clara mostrava um aglomerado de edifícios comprimidos num curto espaço como se estivessem reunindo para tirar uma selfie. Tão distraído estava na arquitetura dos gigantescos monumentos de viga, cimento e vidro que quase não se deu conta de que um pássaro veio voando e pousou exatamente no parapeito da sua janela, mesmo com o vidro um pouco embaçado, deu para perceber que era um corvo desses de filme americano, inteiramente preto, penas curtas e cauda longa, mesmo a janela estando um pouco emperrada, a abertura foi o suficiente para que o estranho pássaro entrasse e desse um vôo atabalhoado pelo escritório e viesse pousar em cima de um globo terrestre da sala vizinha. Bruno estava aturdido, que bicho audacioso, pensou. Mas sua surpresa ainda foi maior quando percebeu que algo brilhava no seu bico, quando aproximou para se certificar o corvo disse: “NUNCA MAIS” e deixou cair um par de anéis que tilintaram ao cair no piso, Bruno conseguiu recuperar o primeiro mas sentiu que estava acordando, mas ainda deu tempo de ler: “Ticiane amor para...” O cérebro lentamente foi despertando e dissipando o sonho para os braços de Morfeu.
Bruno sabia ser impossível um sonho ter continuação, entretanto se pudesse, há muito que ele retornaria àquele sonho em específico e as perguntas que martelam a sua mente desde então; O que terá escrito na outra aliança? Era o seu nome? Tinha certeza que sim, podia apostar, se pudesse. E quem seria Ticiane? O nome ao menos era misterioso, isso todos eram unânimes em dizer. E agora vai cursar Direito? Todos os seus amigos pilheriavam com ele. Mas ele achava que não tinha vocação pra coisa, no final das contas era muito mais fácil cursar literatura americana nos Estados Unidos, quem sabe lá o corvo do Poe aparecesse?
No Brasil onde essa ave não existe é que não ia ter chance mesmo.