A Maior Experiência de uma Vida
O texto a seguir, é, de certa forma o mais difícil que já escrevi. Aos meus queridos leitores deixo meu eterno agradecimento por terem acompanhado meu trabalho com tanto carinho, mas esta é minha despedida. Não estarei mais escrevendo sobre mistérios aqui na revista, e espero que depois de lerem o que tenho a dizer, entendam meus motivos. Preciso fazer outras coisas da minha vida. Então:
A Maior Experiência de uma Vida
Foi com essa frase que se iniciou uma carta anônima de alguém que se dizia ser um fã. Segundo ele, este lugar oferecia a experiência mais intensa pela qual alguém poderia passar, e sendo este meu trabalho, vivenciar essas atrações excêntricas para contar para vocês, não tive como não me interessar.
Isso foi na semana passada, e logo no dia seguinte resolvi olhar. Com o endereço em mãos e o ticket de entrada que veio junto na carta, parti para o local.
Chegando lá, não senti muito interesse. Era um prédio velho em uma rua suja. Em uma placa ao lado da porta, as palavras já davam sinal de estar sumindo devido ao tempo, mas conseguindo distinguir algo como “Maior” e “Vida”, senti que estava no lugar certo.
Abri a porta e deparei-me com um corredor a esquerda e uma escada a direita. Uma flecha apontando para cima me fez tomar a escada.
Chegando ao topo, um longo corredor se estendia, e no meio dele, em uma mesa em formato de L, havia um garoto, que lia uma revista desinteressadamente.
Cheguei a ele e pedi se este era o lugar que procurava, e ainda sem expressão, ele respondeu:
“ – Isso mesmo. Bem-vindo a maior experiência da sua vida. Você tem certeza que quer participar?
- Ann, sim? – respondi.
- Tem certeza? – pediu novamente.
- Sim...
- Mesmo? – repetiu ele
- Como eu já disse... Sim – conclui já me incomodando.
- São três vezes que você disse sim... – continuou ele – Podemos continuar. Ticket por favor... “.
Lhe entreguei o velho pedaço de papel desbotado, ao qual ele partiu ao meio e me devolveu metade, então sinalizou para que o seguisse.
Me levou ao final do corredor, onde havia uma porta. Ele a abriu, me pediu para entrar e a fechou em seguida.
Por um momento fiquei um pouco aflito, afinal, poderia ser um golpe. O quarto estava escuro, salvo uma lâmpada que iluminava uma cama e uma cadeira no fundo do cômodo. Apertando a visão vi que havia um homem deitado nela, que sinalizou para eu me aproximar.
Cheguei perto, e vi que era velho, sofrido. Com a voz fraca, pediu-me para sentar, e eu o fiz.
“ – Diga-me meu filho, quais são os seus maiores sonhos? O que mais quer da vida? – pediu.
- O que mais quero? Olha.... Não sei exatamente... Tem tanta coisa...
- Não se acanhe, jovem. Sonhe alto, com toda sua vontade. Diga-me o que quer... – e ao falar isso, ele tocou em meu braço. ”.
Nesse momento, me vi saindo do quarto e comecei a viver tudo que almejava. Me vi abrindo minha própria revista e ficando famoso. Ganhando prêmios e prestigio no ramo. Ficando cada vez mais rico, conhecendo as mais belas mulheres e comprando tudo que sempre desejei. Senti que se passaram anos, e me vi conhecendo a mulher da minha vida e de viajar o mundo com ela. De formar uma família saudável e ver meus filhos crescerem felizes. Os vi se formando e expandindo ainda mais nosso negócio. Vi prosperidade em nossas vidas e vi meus netos nascerem. Eu vi... Ou melhor... Vivenciei minha vida sendo perfeita. Mas no fim, vi minha morte. E como um fantasma eu vi meus filhos envelhecendo e também se indo. Meus negócios, meu legado, meu nome... Ano após ano, vi tudo desaparecendo, e que no final, não havia mais nada.
A próxima coisa de que me lembro é de acordar na minha cama, chorando. Era como ter acordado do mais triste e longo pesadelo.
Percebi que no fim, nada importa. Quem você é ou o que você faz. O que importam são os momentos que se vive, porque o resto, o tempo leva embora.
Fiquei meio mal por alguns dias, sem saber o que pensar, mas só hoje me dei conta disso, que a vida é para ser vivida um dia após o outro.
E quanto a experiência, se foi real ou não?
Pois é... Hoje ao abrir minha carteira, encontrei minha metade do ticket...