A Grande Amizade

São 9:00, a menina Lenia caminha até o quintal e chama por sua cachorra:

- Alisia, vem cá Alisia, eu trouxe bolacha de sal, a sua preferida.

A cachorrinha vem correndo toda alegre em sua direção e fica lhe rodeando. Lenia gostava tanto dela, as duas se divertiam, adoravam ficar correndo pelo quintal, era a única companhia que alegrava o seu dia, era um dos poucos momentos onde conseguia sorrir.

Lenia estava muito doente, os médicos avisaram os seus pais que só lhe restavam poucas semanas de vida, apesar dela não ter sido informada sobre isso, Lenia sabia que estava bastante doente, e isso a deixa extremamente triste.

Mas nos momentos em que estava brincando com Alisia, uma pequena Pinscher que ganhou de sua mãe, ela se esquecia por alguns minutos a triste realidade de sua vida:

- Nossa Alisia, você come muito rápido as bolachas, calma, nem adianta me pedir mais, só vou dar novamente mais tarde, você está muito comilona sabia? Espere um pouquinho que vou buscar uma coisa que fiz pra você.

Lenia segue até o seu quarto e pega um desenho que fez das duas juntas, ela pintou com guache, o seu caderno era recheado de desenhos da cachorrinha, era o seu passatempo preferido durante o dia:

- Olha garota, dá uma olhada nessa pintura, foi eu que fiz, o que acha? Venha, vou colar dentro da sua casinha, eu disse pra você que iria fazer e fiz, você viu como eu cumpro com o que prometo? Bem, só falta colar um pouco aqui em baixo, pronto, ficou perfeito, o que achou? Gostou? Entra lá pra você ver melhor, não quer entrar? Vai lá Alisia, eu caprichei tanto nesse desenho, você gostou né? Eu fiz outro pra colocar no meu quarto também..

Lenia senta ao lado de Alisia e fica fazendo massagem nela, tentando se distrair ao máximo para não ter que lembrar que carrega consigo uma terrível doença, ela era tão feliz, tão sorridente e sonhadora, de repente tudo mudou, seu semblante é carregado de melancolia, não é fácil conviver com esse sofrimento, de saber que existe em você uma doença incurável, de saber que nunca mais poderá ser a mesma de antes.

Lenia deita no chão e fica olhando para o céu, tentando pensar em algo que possa lhe fazer sorrir, que lhe traga algum conforto, alguma esperança.

No quarto da mãe de Lenia:

- O que está fazendo ai na janela com esse caderno querida? Você está tão pensativa..

- Estou aqui observando a Alisia..

- Observando a cachorra? Por que? O que ela está fazendo?

- Sabe, você não acha estranho ela ficar correndo tão alegre pelo quintal como se estivesse brincando com alguém?

- Estranho? Bom, o quintal é grande, ela só deve estar se divertindo um pouco.

- Mas se divertindo sem a nossa filha? Parece até que ela não sente falta dela, as duas eram tão unidas. Olha esses desenhos do caderno de Lenia, são ilustrações que ela fazia da Alisia, havia uma ligação muito forte entre as duas.

- Alisia é só uma cachorra querida, ela não tem sentimentos pra sofrer pela ausência de nossa filha.

- Eu não penso assim, eu sinto que a algo acontecendo com ela. Na verdade, parece que ela consegue sentir a presença de Lenia, como se ela ainda estivesse viva aqui na casa, eu tenho certeza disso..

- A morte de nossa filha nos abalou bastante, a saudade é muito forte mas não podemos ficar presos no passado, por mais difícil que seja devemos seguir com nossas vidas. Isso é tudo ilusão sua, você gostaria que Lenia estivesse viva mas infelizmente ela morreu, teremos que conviver com isso.

A mãe de Lenia tem razão, a presença da menina ainda continua pela casa, alegrando as tardes de Alisia, a melhor amiga que ela tinha, aquela que lhe trazia diversão enquanto sofria com a maldita doença. Agora as duas poderão manter a amizade que sempre tiveram, se alegrando o dia inteiro sem preocupação e dor, uma felicidade que infelizmente Lenia pouco sentiu enquanto estava viva.

Lucas Pires
Enviado por Lucas Pires em 19/03/2022
Código do texto: T7476148
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