Não alimente o ódio
Os meus crimes são perdoados. Os seus, não. Porque, cada vítima que faço, a culpa não é redirecionada para mim, e sim para você.
21:56 PM
Você está sentado em sua poltrona, depois de um dia cheio e cansativo. Sua mulher e filhos estão dormindo. Ao abrir a geladeira se depara com ela farta, cheia de comida e suprimentos para os próximos 3 meses. Pega duas fatias de pães e, junto a mortadela, faz um grande sanduíche. Delicia-se, lambe até os beiços.
Sobe as escadas, dá um beijo de boa noite em cada filho, sua mulher fica linda dormindo, não é mesmo? Aproxima-se dela, com cuidado, beija a testa dela. Senta-se sobre a cama, tira os sapatos e, em seguida, as roupas. Caminha até o banheiro, abre a água do chuveiro, e naquele momento, todo o suor foi por ralo abaixo. Depois de um banho gostoso, você se enxuga e vai para cama, deita sobre ela e adormece.
2:27 AM
Você acorda, porque ouve barulhos estranhos pela casa.
Tenta não acordar sua mulher, caminha na ponta dos pés. Abre a porta e desce as escadas, então percebe que não há nada ali embaixo. Sobe novamente a escada e passa pelos quartos dos seus filhos, vê que todos estão dormindo. Volta para sua cama, mas sua mulher está com toda a coberta. Você tenta puxar, mas não consegue. Tenta virá-la e, ela está morta, seus olhos estão fundos e seu rosto paralisado em completo terror.
Alguém a matou.
Você levanta, depois desse susto, caminha de costas e esbarra em um corpo. Ele está pendurado de cabeça para baixo, é o corpo é de seu filho mais velho. Tenta apanha-lo e cortar a corda que o prende, mas não consegue.
Ouve gritos que parece ser de seus outros filhos. Corre desesperadamente até lá, e presencia uma cena brutal. O seu filho mais novo está com todos os membros do corpo arrancados. Você está paralisado.
Falta o filho do meio, procura ele por toda a casa. O encontra sentado em sua poltrona, observando você com uma cara de medo, e diz:
– Por favor, papai, não me mate!
Ao ouvir aquilo, seu coração dispara. Pergunta a ele sobre o que está falando, e ele diz:
– Foi você, matou os meus irmãos e a mamãe. E em seguida, tentou me matar.
Abraçou o garoto e o levou para sua cama, em meio ao corpo irreconhecível de seu irmão mais novo, colocou ele sobre ela e adormeceu ao lado dele.
3:33 AM
Você está sendo atormentado em seus pesadelos, não sabe o que fazer. Quem matou sua mulher e filhos? Será que ainda está na casa?
Você acorda e vai para o banheiro, se olha no espelho e vê o monstro que você é. Foi você quem matou quase toda a sua família.
Seu filho caminha junto a ti para banheiro, pede para que você agache e cochicha em seu ouvido:
– Papai, me mata? Eu quero me juntar com a mamãe lá no céu.
Você abraça seu filho com tanta força, pede desculpas pelo que fez, depois o afasta e ele cai ao chão, morto.
Foi você quem o matou. Foi você quem matou toda a sua família.
O ódio e o desejo te cegaram, não deixaram ver o que estava fazendo. Você estava cansado por ter que lidar quase todos os dias com os mesmos problemas de sempre, era "amor, faz isso? Amor, faz aquilo? Papai, faz isso? Papai, faz aquilo?". Chegou ao ponto de explodir, e explodiu.
Você cometeu um brutal assassinato.
Mas não se preocupe, eu estou com você. Eu sou seu desejo de ódio, sou o demônio que estava preso dentro de você, o demônio que se libertou, ou, pelo seu ponto de vista: eu sou você, e você sou eu. Somos feitos da mesma carne, fruto do mesmo pecado.
Você os matou, porque resolveu que era hora de me alimentar