Quadra 29
Sentado no quarto escuro, iluminado apenas pelas idéias de um louco e pela luz amarela das velas que projetavam sombras enigmáticas dos móveis rústicos. Uma época que eu não sei dizer qual é.
A silhueta de um homem me vem à memória. O Velho de barba cinzenta fixava o olhar cabisbaixo na bacia que continha apenas água, ele parecia ler e às vezes até conversar com os reflexos que enxergava. Após um tempo de leitura e meditação, começou a escrever o que parecia ser um poema pelo que pude perceber. Durante um tempo ele olhou para mim como quem olha para uma assombração que lhe observa de outra dimensão. No seu rosto que parecia ficar mais nítido, como se a fumaça das sombras e da distancia fossem dissipadas, pouco a pouco vi a palidez de um rosto amargurado pelas verdades futuras e angustiado pelo momento presente.
O que ele escrevia?
Seriam memórias ou estórias, passado ou Presente?
Seria um poema do futuro, de lamentos e angustias?
De sofrimentos e amarguras, de fome e dor?
Ou seria apenas um sonho?
Alucinações e remorsos, mentiras escondidas
Verdade explicita razão e rancor.
Um trecho eu li, e descrevo logo em seguida:
Guerra, raio, muitos campos despovoados,
Terror e barulho, assalto à fronteira:
Grande, grande caído perdão aos exilados
Germanos, hispânicos, por mar barba, bandeira.
(Centúria de Nostradamus)