A noiva

Lá pelos meados dos anos mil novecentos e noventa, minha família e eu morávamos em Cesário Lange, interior de São Paulo. Uma cidadezinha acolhedora e um lugar agradável de se viver. Ah, a vida no interior! Poder brincar na rua com os amigos, jogar bola, pais de lata, reuniões de amigos até tarde da noite! Quem viveu isso, sabe da importância de uma infância feliz!

Meu irmão mais novo Fábio sempre foi muito curioso e gostava de ler a enciclopédia Conhecer que ganhamos de nosso primo Zezo de São Paulo. De invenções a experiências, com direito até a show de mágicas, nos deliciávamos com cirquinho, guerra de mamonas, até nosso primeiro prospecto de vídeo game, um telejogo. Um aparelho com dois botões que giravam um cursor na vertical da tv e simulava um jogo de tênis. Uau, era fantástico!

Eu joguei muita bola na rua, futebol, queimada e vôlei. E o que mais gostava era nos reunirmos a noite para contar histórias de assombração. De lobisomem a fantasmas, íamos embora correndo até nossas casas, de tanto medo.

Fábio ia toda noite na casa de seu amigo de escola, Sérgio Torrean, um mestiço japonês, hoje já falecido, tão jovem, uma lamentável perda. Lá aprendeu falar e escrever japonês, a lutar karatê, pois ambos eram fãs de Bruce Lee e eu lembro-me, como se fosse hoje, os incansáveis filmes que assistiam de karatê, tanto que gosto deste gênero de filme até hoje. Chegava todo dia muito tarde em casa, ou seja, de madrugada, e nunca sentia medo de transitar pelas ruas pacatas desta cidadezinha que dormia cedo, de segunda a quinta-feira. Sim, porque ao seu redor tem uma infinidade chácaras e sítios, muitos deles, com casa de veraneio de pessoas da cidade de São Paulo, que vem passar o final de semana no interior e agitam o movimento até hoje.

Numa dessas vindas solitárias à noite, percebeu que estava sendo seguido. Como nunca havia acontecido, nem ousou olhar do lado, nem para trás, apenas seguiu caminhando, imaginando que poderia ser uma outra pessoa. Foi embora normalmente para casa.

No dia seguinte, a mesma coisa, veio embora tarde da noite e nem se lembrou do acontecido da noite anterior. Numa das esquinas que virou, percebeu novamente a presença de uma segunda pessoa e resolveu testar quem o seguia. Caminhou mais lentamente e pressentia a presença de uma outra pessoa, também no seu ritmo. Apressou os passos e a pessoa também, como se o acompanhasse. Decidido que seria uma pessoa tentando o assustar, não se importou, seguiu caminhando no seu ritmo até em casa.

Na terceira noite, sucedeu-se a mesma coisa, tinha alguém caminhando com ele. De súbito, virou-se para trás e para sua surpresa viu uma noiva toda de branco. Estranhou, uma noiva caracterizada a esta hora da noite na rua? Mas resolveu continuar sua caminhada. E a estranha sensação de estar sendo acompanhado. Era a noiva. E por incrível que possa parecer, seguiu seu caminho até nossa casa muito calmo.

Na quarta noite, tudo repetiu-se igualmente. A caminhada até nossa casa, a noiva, mas ele percebeu que ela aparecia num determinado quarteirão e depois de alguns sumia. Foi então que resolveu parar, olhar para a noiva e perguntar o que ela queria. Se precisava de alguma coisa, ou se ele poderia fazer algo. Notou que a moça não tinha pés, flutuava no ar. Tentou conversar, sem sucesso, não obteve resposta alguma, apenas a linda moça o admirava. Ele conta que não teve medo, mas insistiu muito que a moça falasse. Resolveu ir embora para casa e como de costume, naquele determinado quarteirão a moça sumia.

Só depois destes acontecimentos de dias seguidos, resolveu nos contar e perguntou para algumas pessoas conhecidas da cidade e foi aí que ficou sabendo que há muito tempo este episódio acontece na cidade e muitos conhecem a história da noiva que segue pessoas de madrugada. Meu irmão continuou a voltar da casa do amigo tarde da noite, mas depois de ter confrontado a noiva a falar, nunca mais ela foi vista por ele.

Lenda urbana de noivas existem muitas, mas meu irmão vivenciou esta história na sua juventude e nunca mais nos esquecemos desta história intrigante, misteriosa e que continua a acontecer ainda hoje naquela cidade.

Sissili
Enviado por Sissili em 26/01/2022
Reeditado em 26/01/2022
Código do texto: T7437933
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