Boa noite amigo
Boa noite amigo.
Pois lembrei-me agora de um fato acontecido comigo, trata-se de um encontro um pouco macabro com um compadre meu, que me pareceu certa noite vestindo uma roupa estranha, correndo pelo campo, cheirando a enxofre, pois acho que o compadre era lobisomem, que é um ser humano lendário, capaz de se transformar em lobo nas noites de lua cheia.
Naquela noite, regulava 22horas, um pouco mais, um pouco menos, isso nem me importava porque teria que fazer o trajeto montado numa mula preta meio velha e por isso, andava devagar. A lua era cheia. Deixei o portão do rancho apenas encostado, sem cadeado, pois não tinha gado apenas algumas ovelhas que deixara no galpão. Montei, cutuquei a mula e segui em frente para chegar em casa, isso levaria alguns vinte minutos aproximadamente. O trajeto era calmo, não havia noticias de roubos, ou outra violência por ali, as eram distantes umas das outras e ao lado da estrada de terra havia muitos arbustos de médio porte, à noite ficava bem fechado. Eu não tinha arma, a não ser um velho facão que servia pra tudo, desde cortar um arame, até fazer um churrasco, às vezes. Segui em frente, pois conhecia aquele trajeto, fazia-o diariamente. Tranquilo, cavalgando a mula com calma, quando de repente comecei a ouvir barulhos vindo do lado esquerdo da estrada. Ora, animais aquela hora não seriam, ladrões de gado, primavam pelo silencio e não se apresentariam a ninguém tendo muitos esconderijos. Fiquei atendo e o barulho continuou, parecia barulho de algo se arrastando pelo mato, não dei bola, algum bicho talvez, alguém deixou animais à solta....Mais alguns metros percorrido e havia a porteira de outra propriedade rural, pois foi ali o primeiro susto. Quando estava bem defronte a tal porteira o barulho no mato aumentou e algo saltou por sobre o arame em disparada e, pasmem, não era um bicho, capivara, sorro ou outro, embora fosse totalmente peludo, era um homem, ou algo equivalente. Fiquei arrepiado, com muito medo, sem reação e a figura sinistra se foi campo afora. Cutuquei a mula preta e cadê da cavalgadura andar direito. Continuei do mesmo jeito e lembrei-me que adiante ainda havia locais piores que aqueles. Por sorte não ouvi mais nada e nem vi bicho nenhum, muito menos homem peludo até o local chamado pelos moradores de Campo Pelado, resquícios de antiga construção onde não nasceu mais mato, nem relva, um lugar para passar rápido, sem olhar muito, porque realmente era sinistro, pois foi quando em frente do Campo Pelado vi ao longe um movimento parecendo uma sombra na noite não muito escuro daquele dia. Fugir ou ficar era a mesma coisa. Estava “perdido” então segui, tremia muito e a mula tremia mais ainda. Visualizei a figura sinistra, o homem peludo, este levantou uma mão, parei ele veio na minha direção e, quando a uns quatro passos, eu já disposto a brigar com meu velho facão na mão, ouvi do peludo um “boa noite amigo”.Relutei e respondi, “buenas noite”. O que o Senhor quer? Perguntei. O peludo soltou uma imensa gargalhada me dizendo: -Não me reconhece compadre?- Sou eu, Severo! Olhei bem fixamente pro peludo e ele sorria mostrando uma boca que lançava cheiro de enxofre. Barbaridade! Não esbocei reação alguma, levei alguns segundos para reagir e finalmente perguntar: -Mas compadre Severo, me desculpa não reconhecê-lo, o senhor está bem diferente e com essa roupa estranha. Mais uma risada e o compadre me disse: não é roupa, é minhas pele assim .E assim se passaram alguns segundo e aquela conversa estranha não terminava.Mais uma gargalhada e bafo de enxofre e o compadre começou a se mover para fora da estrada, num caminhar balançante e esquisito, andou um pouco, olhou pra trás e me disse assim: -boa noite! Respondi de imediato: -boa noite compadre. Como a mula preta era lerda, saltei, deixei tudo no lombo dela e corri, do jeito que podia, mas corri muito. Não sei como, mas acordei em casa, balbuciei algumas palavras antes de levantar: -O compadre é lobisomem. Depois disso, vendi o que tinha lá, nunca mais fui naquela direção e também não vi mais o compadre Severo. Daquela boa família vi depois disso minha afilhada Clarinha, adulta, com marido e um bebê.Disse-me ela que todos estavam bem, mas que o compadre andava bebendo e, em algumas noites desaparecia e retornava somente pela manhã. Naquele dia, logo por volta de 22 horas, estava no portão de casa quando ouvi:-Boa noite amigo!
-Ora compadre Severo vá á..
Errei, era o vizinho que também estava se recolhendo pra dormir.
-Desculpe-me,boa noite vizinho!