O FIM DE UM CICLO PLANETÁRIO
Herbert, após vários dias de coma profundo, ao acordar ainda meio cambaleante, vai até a janela e lá embaixo vê uma multidão de pessoas caminhando à esmo, anímicas, apáticas, trajes rotos, sem destino.......
Não se houve nenhum burburinho, nenhum carro na rua, nenhuma buzina, nem passos, tudo em silêncio absoluto.
Nesse momento seu médico entra e pergunta.
— Herbert, o que você está fazendo ?
Ainda não autorizei que levantasse, você ainda está muito debilitado pelo acidente.
— Doutor, diga-me o que está acontecendo ?
— Herbert, você não está em condições de raciocinar, volte para a cama, amanhã conversaremos, combinado ?
— Não Doutor, já estou me sentindo melhor e preciso saber o que está acontecendo lá fora.
— Está bem, já que insiste, sente-se aqui, vou lhe contar tudo.
— Sim Doutor.
— Herbert, ocorre que os países desenvolvidos, na disputa pelo petróleo do Golfo Pérsico, entraram em conflito e para não se destruírem mutuamente num confronto nuclear que seria iminente, decidiram pulverizar o planeta com um produto químico, fazendo desaparecer todos os veículos, como num passe de mágica, voltando a humanidade à era pré-histórica, passando a usar os meios de transporte mais rudimentares, até antes mesmo da invenção
da roda,
seria a volta ao homem das cavernas.
— Doutor, e ninguém impediu essa loucura, a ONU, a OEA , a União Européia ?
— Não, pois foi justamente os membros desses organismos, eles próprios, que optaram por essa decisão radical, senão nessa hora o planeta Terra não mais existiria.
— Doutor...... ,como fica o transporte de pessoas, o escoamento da produção, a distribuição de alimentos, as exportações, o comércio, enfim, como ficará esse mundo, diga-me Doutor, como ficará ?. Meu Deus !!!
— Herbert, nada ficará.
Entenda uma coisa, é questão de pouco tempo e tudo terá desaparecido, pois é preferível se extinguir como espécie humana a ter que voltar à era primitiva.
— Mas Doutor, não é justo, depois de toda a tecnologia que conquistamos...
E àquela história de que a Terra estava numa escala evolutiva, juntando-se à outros mundos também evoluídos do Sistema Solar ?
— Sim Herbert, a Terra continua a sua rota evolutiva como planeta, apesar da destruição que lhe causamos.
Apesar da poluição, da destruição das florestas, do assassinato diário de milhares de animais, das queimadas...
Sim Herbert, a Terra continua.
Mas nós não.
E no que pese toda essa tecnologia alcançada, ficamos por aqui, pois não demos conta da tarefa.
Fomos reprovados e seguiremos para mundos menos evoluídos para recomeçar tudo de novo.
Lembra da Atlântida, da Lemúria ?
Pois é, e eram só continentes e também fracassaram, apesar da alta tecnologia conquistada, e nós, que somos o planeta inteiro, assim como eles no passado remoto, hoje somos repetentes dessa grande escola que se chama Universo.
Sim Herbert, o planeta Terra continua.
E, por ser um organismo vivo, talvez vá aliviar um pouco o cansaço que lhe causamos.
Porém dentro de algum tempo, já totalmente modificado em sua superfície, estará recebendo seres da escola que recém iremos ingressar, ou seja, habitantes mais evoluídos, mais conscientes e mais amorosos.
— Então Doutor, ainda poderemos voltar ?
— Sim Herbert, após milênios, possivelmente !!!
José Ferraz