“Aqui... você quer o quê?” - (HUMOR de TERROR)

Do escuro da sala escura, sem qualquer TV ligada, aconteceu o barulho de um roçar e um vento frio soprou.

Zé Mão-de-Força aponta o seu “três oitão” naquela direção e fala baixinho, porém de forma audível:

— “Pó-pará, pó-pará-aí. Vai! Pó-pará, senão leva bala!”

----- (¨s¨.i¨.l.¨ê.¨n.¨c.¨i.¨o.¨) -----

Zé Mão-de-Força insiste:

— “Mêr-mão, melhor tu te apresentar porque eu quase já ia acordar alguém lá num dos quartos pra ir comigo abrir o cofre. Pode ter certeza que eu nem titubeio na hora de fazer isso aqui na minha mão cuspir fogo.

Alguém finalmente aparece, ou aquilo que parece ser um vulto de alguém... e começa um diálogo cabuloso. Uma voz rouca e arrastada podia ser ouvida, saindo da boca de um vulto que flutuava no ar.

¬ ¬ Não sou daqui da casa.

— Mas isso não interessa, mêr-mão! Vai acendendo a luz e me levando direto ao cofre. Tenho outros bairros para visitar... a madrugada toda!

¬¬ Eu não sou daqui da rua, nem dos bairros.

— Olha aqui, não tô interessado nesse papo. E, se não obedecer, não tem nesse mundo quem me segure se eu perder a paciência. Bora lá! Vai!

¬¬ Eu não sou deste mundo.

— Ah! Mas tenha santa paciência! Eu por acaso perguntei de onde tu é, malandro?

¬ ¬ Você não percebeu, pobre mortal? Eu sou um fantasma! Estou aqui toda noite para proteger os moradores deste lugar onde eu morei faz muito tempo.

— Mas era só o que me faltava! E tu tá achando que eu não tinha notado, héin, Gasparzinho? Eu só fingi que não sabia. Sei também que fantasma não tem medo de bala. E mêrmo assim tu quer o quê? Vai querer que eu saia daqui correndo e gritando “socorro.... um fantasma”?

¬ ¬ Mas foi exatamente isso que fizeram outros que eu surpreendi tentando roubar esta casa aqui, depois de arrombá-la na calada da noite.

— Má-qué-isso, malandro? Um fantasma folgado! Pois vou te explicar só mais uma vez. A noite pode estar calada, mas eu mando e você obedece. Você vai ter que usar aí o poder “das-tele-não-sei-o-quê”, que todo fantasma tem, e vai me ajudar a abrir o cofre. Senão vai ser pior porque... se não fizer isso... eu acordo o dono da casa com o revólver nas “fuça” dele, pra ele mesmo ir lá abrir. E se ele empacotar de tanto medo a culpa vai ser tua, seu fantasma duma figa.

¬ ¬ E como é que você vai obrigar a mim, um fantasma doutro mundo, a fazer tua vontade?

— É muito simples, Gasparzinho. Eu sou conhecido em tudo quanto é cemitério que eu já assaltei, levando tudo quanto é joia e mais sei lá o quê. Foi assim que os fantasmas de lá “tudinho já me conhece”. Fiz amizade com todos, depois de jogar aquele papo de que sou um coitado necessitado e uma vítima da sociedade. Você quer mesmo que eu chegue lá e me queixe pra eles (de todos os cemitérios) de que aqui tem um fantasma da burguesia tentando me impedir de levar o pão sagrado pra minha família?

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(Daquela madrugada em diante, um certo fantasma perdeu aquele apego que o havia mantido preso a uma única casa. Agora, ele tinha um motivo politicamente correto para assombrar moradores de todas as residências burguesas de muitos lugares que eram locais de “trabalho” do seu amigo ladrão.)

-FIM-