O Demônio da Escuridão

Os homens a bordo do USS "Catshark" aguardavam num silêncio tenso, enquanto na superfície do mar Jônico o destróier alemão navegava em círculos, tentando localizar a posição deles; por ora, parecia que estavam conseguindo despistar o inimigo. No centro de controle, o operador do hidrofone ergueu a mão, para chamar a atenção do capitão Fletcher.

- O que foi, Marek? - Sussurrou Fletcher, colocando-se ao lado do subordinado.

- Estou captando alguma coisa, senhor... abaixo de nós - disse o operador, retirando dos fones de cabeça e os repassando ao oficial. Fletcher ajustou os fones sobre as orelhas e franziu a testa.

- Mas que diabo... - murmurou.

Não houve tempo para comentários ulteriores; Fletcher havia acabado de devolver os fones para Marek, quando o submarino foi jogado de um lado para o outro. Apesar da surpresa, os marinheiros agarraram-se em seus postos da melhor forma possível.

- O que raios foi isso? - Inquiriu o tenente Weaver de forma retórica.

- Tem algo abaixo de nós - replicou o comandante. - Algo grande. Não podemos ficar aqui.

Os homens voltaram-se para Fletecher, aguardando a ordem. Neste instante, o submarino foi sacudido novamente, de um lado para o outro.

- Isso não foi uma carga de profundidade! - Exclamou o operador dos hidroplanos, segurando-se no console.

- Definitivamente, não - concluiu Fletcher. E para Weaver:

- Ao diabo com os alemães; vamos retomar o curso!

Weaver virou-se para o operador do leme:

- Leme, um terço à frente!

O "Catshark" deu um arranco, quando os motores elétricos foram acionados; mas em seguida, o submarino parou bruscamente, como se houvesse sido apanhado numa rede.

- Leme, dois terços à frente! - Exclamou Weaver.

O ruído dos motores subiu, e o casco começou a vibrar. O "Catshark", contudo, parecia não sair do lugar.

- Senhor, estamos descendo! - Alertou o operador dos hidroplanos.

Os marinheiros viraram-se para o mostrador do fatômetro, onde o ponteiro deslizava vagarosamente rumo aos 450 pés.

- Mas que diabo! - Vociferou o capitão. - Corrija esse curso, Martin! Toda a força à frente!

Com os motores à plena potência, o "Catshark" parou de afundar; contudo, parecia incapaz de ir para a frente. Foi neste instante que uma explosão acima deles fez tremer a embarcação.

- Segurem-se! Cargas de profundidade! - Exclamou algo desnecessariamente o tenente Weaver.

O "Catshark" parecia prestes a ser esmagado, caso continuasse a descer para as profundezas do mar Jônico ou destroçado, se alguma das cargas de profundidade lançadas pelo destróier alemão o atingisse. Qualquer uma das possibilidades implicava na morte de todos a bordo.

E foi então que uma nova detonação, mais próxima, fez estremecer o submarino. No momento seguinte, o operador dos hidroplanos descobriu que havia recuperado os controles: o "Catshark" estava livre, fosse lá do que fosse.

- Retomando o curso, capitão - avisou Weaver, enquanto acompanhava o ponteiro no medidor do fatômetro; este logo voltou aos 400 pés. As explosões de cargas de profundidade foram se distanciando, à medida em que cortavam as águas escuras; o destróier parecia estar tendo trabalho, mas felizmente não era com eles.

- O que acha que foi aquilo, professor? - Indagou Fletcher para Argiris Vasselis, que acabara de reentrar no centro de controle.

- Eu ia lhe dizer, antes de submergirmos - redarguiu o grego. - Reza a lenda que há um templo de Posídon, submerso em algum ponto destas águas; outra parte da lenda, diz que ele é guardado por um monstro marinho... que espécie de monstro, fica por conta da imaginação de cada um.

- Um monstro marinho - Fletcher ergueu os sobrolhos.

- Imaginei que não iria acreditar - replicou Vasselis, com um sorriso.

- E contudo, alguma coisa nos pegou - ponderou Fletcher.

Olhou para o teto da sala de controle, antes de comentar:

- Seja já o que for, parece que inadvertidamente os alemães nos livraram dele.

E voltando-se para o imediato:

- Tenente Weaver, mantenha o curso e a velocidade; prefiro ter que emergir à luz do dia para recarregar as baterias, do que me arriscar a ser pego novamente por essa coisa!

Na obscuridade carmesim do centro de controle, vários rostos demonstraram alívio diante da observação do comandante. Aquele era um sentimento unânime, afinal.

E que os alemães distraíssem fosse lá o que fosse, enquanto eles seguiam no curso de volta para casa.

- [13-09-2021]