CRIANÇA E A REBELIÃO DOS CAVALOS
 
A minha infância, até os cinco ou seis anos continuávamos morando no sítio em Carazinho onde meu pai era oleiro por profissão. Eu já tinha uma irmã e três irmãos, é claro eu era o mais magro e o mais fraco de todos, mas ainda estava vivo contrariando o médico que não alimentava a idéia da minha teimosia de continuar pertencendo neste mundo. Meu pai usando o barro para fazer tijolos, executava algumas esculturas de bichos, como jacaré, ouriço e pássaros da região. Eu também fazia algumas “obras” e quem sabe era o nascimento para que mais tarde eu me tornasse um escultor para fazer “obras” de verdade. Acho até que foi uma tendência que ficou latente em mim por algum tempo, e que veio se manifestar de uma forma anêmica quando chegou o momento. Na olaria a máquina que movimentava as pás para amassar o barro que originariam os tijolos, era acionada por uma junta de cavalos. Eu era um dos que ajudava a tocar os cavalos, sentado em uma cadeirinha atrelada aos cavalos e que girava sobre um tubo onde era colocado o barro para ser amassado. Às vezes os cavalos paravam para ser retirado o barro em forma de tijolos para serem transportados para as esteiras de secagem. Quando os cavalos estavam parados, eu sentava num barranco próximo, e pegava algumas pedrinhas e começava a atirar como brincadeira para todos os lados, mas resolvi também atirar contra os cavalos levemente, para ver suas reações e seus comportamentos. Acontece que alguma pedra deve ter atingido o olho e alguma parte mais sensível e eles começaram a ficar irritados e coiceando, arrebentaram os arreios, e foram mato adentro, e a peonada atrás para contornarem a situação. Numa correria danada que me deixou bastante assustado. Capturam os animais, tiveram que arrumar os arreios, e as andanças dos serviços ficou para o dia seguinte. Após o susto, os peões me perguntaram o que teria acontecido com os cavalos, nunca tinham visto os cavalos que eram tão mansos, ficarem totalmente descontrolados: eu não sei de nada, eu não vi nada e nunca ficaram sabendo do acontecido, era um fato que só eu sabia e guardado a sete chaves. Ficou para a estória que só agora é contada no meu livro.
Naquela época a gente realmente levava uma surra e não precisava apresentar muita arte.
Scaramouche
Enviado por Scaramouche em 13/09/2021
Reeditado em 14/09/2021
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