Confusão
Ao abrir os olhos pude ver o céu, quase noturno. Provavelmente eram entre 18 e 19 horas. De uma terça? Quem me dera se eu pudesse me lembrar.
Tentei me mexer e então percebi que eu estava paralisado. Meus olhos podiam olhar ao redor, mas isso era tudo que eu podia mexer naquele momento.
Foi então que, vindo de longe, comecei a escutar uma música. Inicialmente não entendia sua letra, mas era possível reconhecer uma linda voz feminina, afinada, firme e encantadora. A medida que os segundos passavam ela foi ficando cada vez mais próxima e cada vez parecia me encantar mais.
Pois mais nítido que o som parecesse aos meus ouvidos após um tempo eu ainda não era capaz de reconhecer uma palavra sequer daquela música, mesmo apesar de, em minha confusão, não estranhar o idioma que estava sendo cantado. Eu simplesmente não entendia, mas tudo era muito familiar.
Mais algum tempo se passou e o céu agora já encontrava-se totalmente escuro. De onde eu estava não podia enxergar as estrelas, nem a lua, nem qualquer outra luz. Foi então que eu percebi que já não enxergava nada. Tudo era escuro, não necessariamente preto, mas escuro. A única coisa clara, apesar de confusa, era a música que permanecia tocando.
Como nada via, fechei os olhos de uma vez e comecei a procurar formas na minha consciência. Eu vi um homem alto e magro, aparentava estar feliz e eu fiquei feliz pela sua felicidade, mesmo sem ter ideia de quem fosse.
Também vi uma criança, de cabelos castanhos, ondulados e aparentemente macios. A essa altura, já não me surpreendia em nada eu também não conhecê-la. Aquela sensação de novo. Eu a conheço, ela é familiar, mas eu não sei quem é.
A criança olhou para mim, e com um gesto apontou para o homem alto a sua esquerda, enquanto sorria. Eu olhei para o homem e ele tinha uma expressão séria e conformada. Quando voltei meu olhar novamente para a criança, vi seu sorriso se transformar num choro e seu choro converter-se em gritos de raiva. Ela gritava muito e o som dos seus gritos penetrou meus ouvidos em um tom muito agudo, como se pequenas agulhas perfurassem meus tímpanos em cada investida.
Um último grito foi dado por aquela criança e então, emendando-se a ele a música bonita foi ficando cada vez mais longe dos meus ouvidos.
Logo o breu da noite deu lugar a claridade do dia. Notei então que eu podia me levantar, me esforcei para olhar pela janela de onde eu estava e então eu percebi. Eu simplesmente entendi tudo o que aconteceu comigo nos últimos minutos, ou será que foram horas?
Me perguntei então se eu realmente entendi, ou só me era familiar, apesar de confuso.