O MANUSCRITO (o caso da mensagem engarrafada)
Algumas semanas após as experiências hipnóticas em BH, durante um crepúsculo frio de inverno, um entediado Ed Ronaldo brincava de jogar bolinha com Bilau, capaz de saltos acrobáticos os mais variados. Nosso conhecido cãozinho sentira o baixo astral de seu vizinho estimado, e trouxera seu brinquedo favorito, para alegrar um pouco o momento.
Ed estava confuso; desta vez, não era apenas a escassez de novas aventuras. Algo de desfavorável pairava no ar; sim, ele podia pressentir. Poucos desfrutavam do sexto sentido de nosso investigador, o que, em certos momentos, se traduzia em inquietação. Não era fácil estar sempre à frente dos acontecimentos, ao invés de apenas curtir o presente. Ed esperava por um desdobramento diferente em sua vida... só não tinha como prever de onde viria.
Diana Helena, muito atarefada em seus plantões em BH, se mostrava um pouco mais distante. A rotina em Pedra do Monte sufocava... foi quando uma ideia genial invadiu o insaciável intelecto de nosso herói. Isso mesmo: para ele, criar novos desafios era como respirar; tão ou mais necessário que o simplesmente existir. Seus amigos já de muito o sabiam: quando Ed se recolhia a atirar bolinhas para Bilau, coisas grandes aconteciam:
— Pessoal, como todos sabem, minha vida é movida a novidades. Sem elas, me ponho a pensar demais sobre o futuro, já que estou em outro patamar... eh... não me levem a mal, mas não posso carregar a culpa de ter nascido assim. Vocês me entendem né?
— “Iscuta aqui Ed, todo muno ti conhece; num isquenta não... o que vai aí nessa sua cabeça?” — Uatson havia retornado de Pernambuco; seu trabalho como salva-vidas na praia de Muro Alto não dera certo, já que não havia muitos banhistas, afugentados pela pandemia.
— “Desembucha logo, Ed — exclamou Kadu — tenho muito cabelo pra cortá.”
— É o seguinte: todos aqui devem conhecer alguma história mal resolvida, misteriosa mesmo. Algum crime, investigação, ou fato estranho... quem me trouxer um caso insolúvel, à altura de minhas expectativas, será eternizado em minhas futuras memórias!
— “Uai Ed... se só ocê vai lembrá, num adianta nada, uai?!!”
— Meu caro Uatson! — Ed estalou seu polegar direito, tique apresentado ao se deparar com situações estúpidas — pretendo escrever um livro, e divulgar de forma profissional!
— “Ah bom, cê num explica ué!” — Uatson era meio atrevido...
— “Ocê também vai falá do rôbo da minha bike? — Kadu, por sua vez, meio ciumento...
— Vocês tem 24 horas para trazer um caso. Prometo desvendar tudo, em até no máximo 36 horas. O que acham?
— “E si ocê num consegui?” — Uatson, sempre cético...
— Fracasso é uma palavra ausente de meu vocabulário, Uatson — logo se levantou, e atirou longe a bolinha azul de Bilau, que saiu em desabalada carreira — até amanhã pessoal!
Seus outros velhos amigos de infância também desceram a rua inclinada. Todos já conheciam as esquisitices do vizinho inquieto, não dando muita bola para o fato, exceto Uatson, sempre movido a acompanhar as atitudes do primo. Nutria por ele um misto de admiração e inveja; gostava dele, mas, ao mesmo tempo, torcia para testemunhar uma demonstração de fraqueza, vinda de Ederson Ronaldo:
— “Ocê num perde pur esperá Ed! Dessa veiz, quero vê se resolve essa...”
Baretta, a cacatua do vizinho da frente, sempre acordava bem cedo, e migrava, do poleiro da área de serviço, até o parapeito da janela do quarto de Ed Ronaldo. Ciscava de um lado para o outro, e às vezes soltava:
— “eeeed... eeeed... acooorda eeeed!”
— Deixa eu dormir Baretta... que coisa! Sai fora!
Mas, desta vez, Baretta anunciava uma novidade:
— “Tem pacoooote... tem pacoooote...eeeed... acoooorda!”
De nada adiantava. Quando Baretta cismava com alguma coisa, o sono dos vizinhos era a primeira vítima.
— Que diabos! Cadê esse pacote? — Aaaiii — gemeu Ed, ao chutar sem querer um objeto ao pé de sua cama, o qual saiu rolando até a porta.
A sonolência deu lugar à curiosidade natural de nosso intrépido jovem. De imediato abriu o embrulho, e deparou-se com uma visão curiosa: uma garrafa de vidro esverdeado, parecendo maltratada pelo tempo. Uma rolha espessa, escurecida por um tipo de bolor umedecido, enclausurava uma folha de papel, amarelada pelos anos. O bichinho da dúvida interrompera de vez os dias de tédio. Ao abrir com muita dificuldade a garrafa, valendo-se de seu saca rolhas de aço inoxidável profissional Brinox, um velho e conhecido brilho nos olhos, denunciou um princípio de hiperatividade mental.
— Uma carta... escrita em russo!
Os globos oculares de Ed moviam-se freneticamente. Suas pupilas se dilatavam, absorvendo mais luminosidade matutina, e permitindo uma maior assimilação da grafia, desgastada pelas décadas. As habilidades linguísticas no idioma soviético, obtidas recentemente na web — “Aprenda russo dormindo; frases feitas em russo” — permitiram a identificação de uma mensagem de saudação, seguida por um endereço e uma sigla: A. P. B. / junho de... 1969!
— Manhêeeeeee... quem deixou este embrulho aqui??
— “Ô minino... já acordô gritano!! Foi Uatson uai... ele mandô dizê que já tá contano as hora; num sei que qui ele tava falano não!”
Uatson havia encontrado a garrafa ao lado de uma duna, na praia de Muro alto, perto do quebra mar. Tentou abrir, mas não conseguiu. Resolveu guardar, pois tinha uma mania de colecionar quinquilharias.
— “Qualqué dia vô descobri que trampo é esse... pelo jeito, pode sê um segredo de pirata... um mapa de tesôro!”
Passada a curiosidade inicial, Ed pôs-se a pensar: — “ora bolas... pensando bem, que mistério tosco é esse? Tenho mais o que fazer... se bem que, dada a pasmaceira desses últimos dias...”
O IPhone 12, gentileza de Diana Helena, parecia uma Ferrari abastecida com água de coco, às voltas com o precário pacote de internet de Pedra do Monte.
— Raios! A Enciclopédia Barsa 16 volumes de 1981, da biblioteca municipal daqui, me ajudaria mais... vamos, vamos: navios russos; litoral pernambucano; 1969... — Ed se lembrou do navio alemão de 1944, no caso das caixas misteriosas — e começou a entender a expressão: “a ver navios”, já que nada obtinha de suas pesquisas.
— E agora? Uatson me pegou! Quem é A.P.B.?
Ed Ronaldo consultou seu velho relógio espião russo, equipado com calendário: dispunha ainda de 28h27min; tempo restante para decifrar a charada. O ponteiro de segundos se movia, de forma implacável. Baretta cacarejava:
— “E agooora eeeed? Quem éeee PBêee? Quem éeee PBêee?”
— Isto não faz sentido! Como alguém manda uma saudação ao desconhecido, e não se identifica?? A não ser que...
Ed, dotado de incrível versatilidade, detinha noções sobre os jargões utilizados no meio investigativo: a sigla A.P.B. poderia indicar a expressão “all-points bulletin”, que significaria uma informação enviada de forma ampla, a todos os policiais de uma determinada região, concernente às buscas sobre uma pessoa fugitiva ou desaparecida.
— “Nosso enigmático amigo russo, não sei por qual razão, não quis se identificar” — Ed perambulava sem cessar pelo quarto — “mas..., esse endereço: Kirova Prospekt, Kolomna, Moscow, Oblast... — neste ponto o papel se esfarelou entre seus dedos, antes que o número escrito fosse identificado. A expressão facial de Ederson Ronaldo era a imagem da frustração! — Avenida Kirova... região de Moscou... Kolomna...” — o relógio espião russo não dava trégua!
Após cerca de 16 horas de intensa exigência psíquica, ingerindo apenas água, pesquisando voraz e lentamente, já que a velocidade dos dados equiparava-se à cera do time vencedor, aos 41 minutos do segundo tempo, Bilau latiu alto, em resposta à atitude explosiva:
— Eureka! Tá aqui:
“Mulher de espião russo desaparece em naufrágio nos mares do Sul. O famoso agente soviético Boris Botsanenko, preso por atividades ilícitas de espionagem na América Central, confessou ter operado por anos, com a cumplicidade da esposa Anastásia Prokofievich Botsanenko, provavelmente morta no afundamento do navio pesqueiro Sulak. O estrangeiro comunista admitiu sua origem, ao revelar ter nascido na cidade de Kolomna, e residido com sua amada por anos na avenida Kirova, antes de serem enviados para as atividades de espionagem” — notícia de novembro de 1969; arquivos de jornal da Cidade do Panamá. A habilidade com a língua castelhana (web - “Espanhol para desinteressados”), foi de grande serventia, propiciando uma rápida resolutividade ao caso, após 24h13min exatos, marcados no seu inseparável mostrador soviético.
— Esta história daria um filme! Imagino a cena final: Anastásia, à beira do fim, em mares distantes, assina um confissão misteriosa às águas, e a lança ao mar, como seu último ato — não fosse a frieza característica dos grandes detetives, a lágrima que lutava por verter do olho direito de Ed Ronaldo teria vencido a resistência, e aflorado...
Uatson, mais uma vez se viu frustrado, diante da inquestionável competência do primo.
— ”Assim num vale Ed. Cumé que a muié russa ia iscrevê uma coisa em inglêis?”
— Meu caro Uatson! Obviamente nossa “Mata Hari” russa também dominava a língua universal, exigência básica do meio, e valeu-se de um jargão codificado, para comunicar seu fim trágico. No fundo coitada, tinha esperança de ter a mensagem entregue ao marido, por algum bom samaritano.
— “Uai sô! Intão... esse aí sô eu!”
— Nobre Uatson, a mensagem tem 52 anos. Quem sabe este Boris... ainda esteja vivo?
A expressão vivaz no olhar longínquo, mais uma vez se renovou. As próximas semanas estavam salvas, repletas de significado...
Obs 1) Obra fictícia, com locais alternativos (a fim de se adaptarem ao contexto) e personagens fictícios e/ou modificados, em homenagem a Mata Hari, dançarina exótica dos Países Baixos, acusada de espionagem e condenada à morte por fuzilamento, em 1917, durante a primeira guerra mundial. Inspirada em notícia: “Americano acha mensagem em garrafa lançada ao mar 50 anos atrás por marinheiro russo.” (G1 – Planeta Bizarro), datada de 19/08/2019.
Ed estava confuso; desta vez, não era apenas a escassez de novas aventuras. Algo de desfavorável pairava no ar; sim, ele podia pressentir. Poucos desfrutavam do sexto sentido de nosso investigador, o que, em certos momentos, se traduzia em inquietação. Não era fácil estar sempre à frente dos acontecimentos, ao invés de apenas curtir o presente. Ed esperava por um desdobramento diferente em sua vida... só não tinha como prever de onde viria.
Diana Helena, muito atarefada em seus plantões em BH, se mostrava um pouco mais distante. A rotina em Pedra do Monte sufocava... foi quando uma ideia genial invadiu o insaciável intelecto de nosso herói. Isso mesmo: para ele, criar novos desafios era como respirar; tão ou mais necessário que o simplesmente existir. Seus amigos já de muito o sabiam: quando Ed se recolhia a atirar bolinhas para Bilau, coisas grandes aconteciam:
— Pessoal, como todos sabem, minha vida é movida a novidades. Sem elas, me ponho a pensar demais sobre o futuro, já que estou em outro patamar... eh... não me levem a mal, mas não posso carregar a culpa de ter nascido assim. Vocês me entendem né?
— “Iscuta aqui Ed, todo muno ti conhece; num isquenta não... o que vai aí nessa sua cabeça?” — Uatson havia retornado de Pernambuco; seu trabalho como salva-vidas na praia de Muro Alto não dera certo, já que não havia muitos banhistas, afugentados pela pandemia.
— “Desembucha logo, Ed — exclamou Kadu — tenho muito cabelo pra cortá.”
— É o seguinte: todos aqui devem conhecer alguma história mal resolvida, misteriosa mesmo. Algum crime, investigação, ou fato estranho... quem me trouxer um caso insolúvel, à altura de minhas expectativas, será eternizado em minhas futuras memórias!
— “Uai Ed... se só ocê vai lembrá, num adianta nada, uai?!!”
— Meu caro Uatson! — Ed estalou seu polegar direito, tique apresentado ao se deparar com situações estúpidas — pretendo escrever um livro, e divulgar de forma profissional!
— “Ah bom, cê num explica ué!” — Uatson era meio atrevido...
— “Ocê também vai falá do rôbo da minha bike? — Kadu, por sua vez, meio ciumento...
— Vocês tem 24 horas para trazer um caso. Prometo desvendar tudo, em até no máximo 36 horas. O que acham?
— “E si ocê num consegui?” — Uatson, sempre cético...
— Fracasso é uma palavra ausente de meu vocabulário, Uatson — logo se levantou, e atirou longe a bolinha azul de Bilau, que saiu em desabalada carreira — até amanhã pessoal!
Seus outros velhos amigos de infância também desceram a rua inclinada. Todos já conheciam as esquisitices do vizinho inquieto, não dando muita bola para o fato, exceto Uatson, sempre movido a acompanhar as atitudes do primo. Nutria por ele um misto de admiração e inveja; gostava dele, mas, ao mesmo tempo, torcia para testemunhar uma demonstração de fraqueza, vinda de Ederson Ronaldo:
— “Ocê num perde pur esperá Ed! Dessa veiz, quero vê se resolve essa...”
Baretta, a cacatua do vizinho da frente, sempre acordava bem cedo, e migrava, do poleiro da área de serviço, até o parapeito da janela do quarto de Ed Ronaldo. Ciscava de um lado para o outro, e às vezes soltava:
— “eeeed... eeeed... acooorda eeeed!”
— Deixa eu dormir Baretta... que coisa! Sai fora!
Mas, desta vez, Baretta anunciava uma novidade:
— “Tem pacoooote... tem pacoooote...eeeed... acoooorda!”
De nada adiantava. Quando Baretta cismava com alguma coisa, o sono dos vizinhos era a primeira vítima.
— Que diabos! Cadê esse pacote? — Aaaiii — gemeu Ed, ao chutar sem querer um objeto ao pé de sua cama, o qual saiu rolando até a porta.
A sonolência deu lugar à curiosidade natural de nosso intrépido jovem. De imediato abriu o embrulho, e deparou-se com uma visão curiosa: uma garrafa de vidro esverdeado, parecendo maltratada pelo tempo. Uma rolha espessa, escurecida por um tipo de bolor umedecido, enclausurava uma folha de papel, amarelada pelos anos. O bichinho da dúvida interrompera de vez os dias de tédio. Ao abrir com muita dificuldade a garrafa, valendo-se de seu saca rolhas de aço inoxidável profissional Brinox, um velho e conhecido brilho nos olhos, denunciou um princípio de hiperatividade mental.
— Uma carta... escrita em russo!
Os globos oculares de Ed moviam-se freneticamente. Suas pupilas se dilatavam, absorvendo mais luminosidade matutina, e permitindo uma maior assimilação da grafia, desgastada pelas décadas. As habilidades linguísticas no idioma soviético, obtidas recentemente na web — “Aprenda russo dormindo; frases feitas em russo” — permitiram a identificação de uma mensagem de saudação, seguida por um endereço e uma sigla: A. P. B. / junho de... 1969!
— Manhêeeeeee... quem deixou este embrulho aqui??
— “Ô minino... já acordô gritano!! Foi Uatson uai... ele mandô dizê que já tá contano as hora; num sei que qui ele tava falano não!”
Uatson havia encontrado a garrafa ao lado de uma duna, na praia de Muro alto, perto do quebra mar. Tentou abrir, mas não conseguiu. Resolveu guardar, pois tinha uma mania de colecionar quinquilharias.
— “Qualqué dia vô descobri que trampo é esse... pelo jeito, pode sê um segredo de pirata... um mapa de tesôro!”
Passada a curiosidade inicial, Ed pôs-se a pensar: — “ora bolas... pensando bem, que mistério tosco é esse? Tenho mais o que fazer... se bem que, dada a pasmaceira desses últimos dias...”
O IPhone 12, gentileza de Diana Helena, parecia uma Ferrari abastecida com água de coco, às voltas com o precário pacote de internet de Pedra do Monte.
— Raios! A Enciclopédia Barsa 16 volumes de 1981, da biblioteca municipal daqui, me ajudaria mais... vamos, vamos: navios russos; litoral pernambucano; 1969... — Ed se lembrou do navio alemão de 1944, no caso das caixas misteriosas — e começou a entender a expressão: “a ver navios”, já que nada obtinha de suas pesquisas.
— E agora? Uatson me pegou! Quem é A.P.B.?
Ed Ronaldo consultou seu velho relógio espião russo, equipado com calendário: dispunha ainda de 28h27min; tempo restante para decifrar a charada. O ponteiro de segundos se movia, de forma implacável. Baretta cacarejava:
— “E agooora eeeed? Quem éeee PBêee? Quem éeee PBêee?”
— Isto não faz sentido! Como alguém manda uma saudação ao desconhecido, e não se identifica?? A não ser que...
Ed, dotado de incrível versatilidade, detinha noções sobre os jargões utilizados no meio investigativo: a sigla A.P.B. poderia indicar a expressão “all-points bulletin”, que significaria uma informação enviada de forma ampla, a todos os policiais de uma determinada região, concernente às buscas sobre uma pessoa fugitiva ou desaparecida.
— “Nosso enigmático amigo russo, não sei por qual razão, não quis se identificar” — Ed perambulava sem cessar pelo quarto — “mas..., esse endereço: Kirova Prospekt, Kolomna, Moscow, Oblast... — neste ponto o papel se esfarelou entre seus dedos, antes que o número escrito fosse identificado. A expressão facial de Ederson Ronaldo era a imagem da frustração! — Avenida Kirova... região de Moscou... Kolomna...” — o relógio espião russo não dava trégua!
Após cerca de 16 horas de intensa exigência psíquica, ingerindo apenas água, pesquisando voraz e lentamente, já que a velocidade dos dados equiparava-se à cera do time vencedor, aos 41 minutos do segundo tempo, Bilau latiu alto, em resposta à atitude explosiva:
— Eureka! Tá aqui:
“Mulher de espião russo desaparece em naufrágio nos mares do Sul. O famoso agente soviético Boris Botsanenko, preso por atividades ilícitas de espionagem na América Central, confessou ter operado por anos, com a cumplicidade da esposa Anastásia Prokofievich Botsanenko, provavelmente morta no afundamento do navio pesqueiro Sulak. O estrangeiro comunista admitiu sua origem, ao revelar ter nascido na cidade de Kolomna, e residido com sua amada por anos na avenida Kirova, antes de serem enviados para as atividades de espionagem” — notícia de novembro de 1969; arquivos de jornal da Cidade do Panamá. A habilidade com a língua castelhana (web - “Espanhol para desinteressados”), foi de grande serventia, propiciando uma rápida resolutividade ao caso, após 24h13min exatos, marcados no seu inseparável mostrador soviético.
— Esta história daria um filme! Imagino a cena final: Anastásia, à beira do fim, em mares distantes, assina um confissão misteriosa às águas, e a lança ao mar, como seu último ato — não fosse a frieza característica dos grandes detetives, a lágrima que lutava por verter do olho direito de Ed Ronaldo teria vencido a resistência, e aflorado...
Uatson, mais uma vez se viu frustrado, diante da inquestionável competência do primo.
— ”Assim num vale Ed. Cumé que a muié russa ia iscrevê uma coisa em inglêis?”
— Meu caro Uatson! Obviamente nossa “Mata Hari” russa também dominava a língua universal, exigência básica do meio, e valeu-se de um jargão codificado, para comunicar seu fim trágico. No fundo coitada, tinha esperança de ter a mensagem entregue ao marido, por algum bom samaritano.
— “Uai sô! Intão... esse aí sô eu!”
— Nobre Uatson, a mensagem tem 52 anos. Quem sabe este Boris... ainda esteja vivo?
A expressão vivaz no olhar longínquo, mais uma vez se renovou. As próximas semanas estavam salvas, repletas de significado...
Obs 1) Obra fictícia, com locais alternativos (a fim de se adaptarem ao contexto) e personagens fictícios e/ou modificados, em homenagem a Mata Hari, dançarina exótica dos Países Baixos, acusada de espionagem e condenada à morte por fuzilamento, em 1917, durante a primeira guerra mundial. Inspirada em notícia: “Americano acha mensagem em garrafa lançada ao mar 50 anos atrás por marinheiro russo.” (G1 – Planeta Bizarro), datada de 19/08/2019.