O MISTÉRIO DA CASA NA ÁRVORE

Período de quarentena. Tudo parado. Que tédio. Nada para fazer a não ser ficar em frente ao computador estudando ou simplesmente, nas redes sociais. Estava de saco cheio disso tudo. Meus pais estressados, e os vizinhos que não paravam de brigar. Aos quinze anos nunca imaginei que pudesse viver um momento assim, literalmente isolado de tudo e todos. Estava esperando que um milagre surgisse e houvesse alguma distração, sei lá, algo para fazer.

No dia seguinte, escutei meu pai falando para Mainha que estaria preocupado comigo, e que estava pensando em deixar eu passar uns dias no sítio que foi do vô Hugo. Não gostei muito da ideia, não bastava eu estar trancafiado e agora queriam isolar-me mais ainda, levando-me para dentro dos matos.

- Pai, não quero ir! Por favor! – Falei assim que ele veio dizer. Mas, não adiantou muito.

- Francisco, você está muito preso aqui. No sítio Esperança, tem ar fresco e um espaço perfeito com árvores, riacho, verde, e sem falar na piscina. Maravilhoso para um jovem inteligente como você passar este período de pandemia. – Respondeu todo sério. Acrescentou: - sim, tem também wifi, para termos contato e não ficares tão isolado do mundo. – Concluiu.

Quando meu pai falava com esse ar sereno, não adiantava insistir. Então, fui arrumar minhas coisas junto a minha mãe, que sabia sobre eu não concordar com eles.

Passados já dois dias, estávamos nós: eu, painho e Mainha, rumando com destino ao sítio Esperança. O meu tio André era atualmente o responsável pelo sítio. Gente boa demais. Tratava-me igual a um filho. Recebeu-nos com muita alegria.

Aproveitei para matar as saudades do avô indo para a garagem velha. Ficava um pouco afastada da casa grande e ninguém mais entrava ali. Tudo empoeirado, com teias de aranha por todos os lados. A motocicleta, a cadeira de balanço e até o cachimbo do vô estavam no mesmo lugar em que ele costumava deixar quando estava vivo.

Achei também uma cadernetinha de capa de couro envelhecido, abri e vi algumas anotações dele. Nas últimas páginas havia uns desenhos com setas apontando para uma jaqueira e em cima do desenho tinha uma cruz vermelha. Não entendi nada. A única forma de descobri seria indo até lá.

- Oh, tio, o senhor sabe em qual direção fica o pé de jaca? – Perguntei ao tio André.

Ele olhou meio desconfiado e surpreso. Antes que perguntasse para quê, fui logo justificando.

- Quero matar a saudade! – Argumentei.

- Fica um pouco mais adiante, próximo ao lago. Cuidado, não fique muito tempo por lá. – Falou com um certo cuidado.

Agradeci e fui o mais rápido que pude. Aproximei-me e para minha surpresa, havia uma casa na árvore, ou seja, na jaqueira. Pense numa alegria, meu avô era “TOP” mesmo, fez uma casa na árvore em segredo. Mas, por quê? Tenho que descobrir.

Para subir teria que escalar por uma corda até chegar lá em cima. Como tenho medo de altura, a subida não me agradava nem um pouquinho. Demorou uns longos minutos até que consegui. A casinha retangular o suficiente para caber umas cinco pessoas sentadas. Tinha uma mesa no centro e um objeto de metal, parecendo um bússola. Peguei e ao tentar girar algo muito estranho aconteceu: uma luz forte saiu do núcleo do objeto e incrivelmente, uma imagem foi projetada em minha frente. A princípio, não reconheci a imagem, mas passado o susto, ela começou a falar comigo. Era o meu avô.

“OLÁ RAPAZ, SABIA QUE VOCÊ CONSEGUIRIA CHEGAR ATÉ AQUI. POIS É O ÚNICO QUE APÓS MINHA PARTIDA, IRIA NA GARAGEM VASCULHAR, NÉ KKKKKKKKKKKK? BEM, VAMOS AO QUE INTERESSA. ESSA TECNOLOGIA QUE ESTAIS VENDO NÃO É DESTE MUNDO. É DE UM LUGAR ANOS LUZ DAQUI, E FOI PARA LÁ QUE EU FUI. APÓS A MINHA COMUNICAÇÃO, DEVES FECHAR IMEDIATAMENTE ESTE PORTAL, CASO CONTRÁRIO, ALGO TERRÍVEL ACONTECERÁ.

- Mas vô, então o senhor não morreu? É isso? – Perguntei todo assustado, já havia até mijado nas calças.

“NÃO ME INTERROMPA GAROTO, O RECADO É O SEGUINTE: VOCÊ IRÁ ATÍVAR UM BOTÃO QUE ESTÁ EMBAIXO DESSA MESA AÍ, EM SEGUIDA FECHE OS OLHOS E ESPERE ALGUNS SEGUNDOS. DEIXEI ALGO ESPECIAL PARA VOCÊ E ESPERO QUE APROVEITE ATÉ CHEGAR O SEU DIA TAMBÉM. SIM, E RESPONDENDO A SUA PERGUNTA: NÃO, NÃO MORRI!”

Dito isso, a imagem sumiu, mas a luz continuou brilhando. Fiquei aperriado, comecei a gritar por ele, e nada. De repente senti a casa da árvore tremer e lembrei do recado de fechar o portal antes que algo ruim, segundo meu avô, acontecesse. E apertei o negócio umas cinco vezes e nada da luz sumir. O tremor havia aumentado. Meu coração acelerou e por fim, a luz apagou e o tremor também.

Todo suado e urinado, fui até a mesa no centro da casinha, olhei debaixo e vi o botão que ele falou. Quando estava prestes a apertá-lo, uma sombra enorme apareceu por trás da mesa e sem pensar duas vezes, apertei o botão fechando os olhos, gritando feito um louco.

- Fancisco, hora de levantar! O café já, já estará pronto!

Abri os olhos, estava em minha cama. Em minha casa na cidade. Foi tudo um sonho, nossa e que sonho.

Quando tirei o lençol de cima de mim, em minha mão estava o objeto metálico e a esquerda a SOMBRA... NÃÃÃÃÃOOOOOOOOO!!!!!

Debora Oriente
Enviado por Debora Oriente em 31/05/2021
Reeditado em 03/01/2024
Código do texto: T7268713
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