A CHUVA DOURADA

Dizem que no passado era comum se ouvir falar da Chuva Dourada. A lenda de um tesouro que repentinamente surgia na vida de algumas pessoas, oferecido como um presente vindo do além. Volta e meia se ouvia histórias e relatos de pessoas que enriqueceram após ter a sorte grande de presenciar esse fenômeno espetacular. Meu tio e meu avô viram de perto a mágica deslumbrante da Chuva Dourada.

Antes de contar a história do meu tio e do meu avô, eu preciso esclarecer o que é esse fabuloso fenômeno; um acontecimento sobrenatural oriundo de outro mundo. Os antigos contavam que a Chuva Dourada era uma chuva abundante de moedas de ouro que caíam do alto; como se estivessem vindo do “céu”. Era um espetáculo lindo de se ver. Isso mesmo. Do nada, pessoas afortunadas se deparavam com uma torrente de luminosas moedas de ouro, que caíam do alto.

A Chuva Dourada poderia acontecer em qualquer lugar; na rua, dentro de casa, etc. De acordo com os que conheciam bem a lenda, assim que as moedas surgiam e iam caindo, elas se acumulavam no chão. Para garantir o mágico bônus, era preciso que o abençoado sortudo colocasse as mãos sobre o ouro e fizesse uma oração em agradecimento. Caso contrário, o valioso tesouro desaparecia como em um passe de mágica; da mesma maneira como tinha aparecido, poderia sumir.

Meu avô contava que certo dia, estava sozinho em casa com o filho (meu tio), que naquela época era só uma criança. Não tinha energia elétrica na casa e meu avô havia preparado o banho do meu tio, em uma grande bacia de alumínio, com água quentinha e a luz de velas. O banho de bacia costumava ser em um pequeno quarto da casa, e não no banheiro. Hoje, meu tio conta que lembra bem daquela noite, conta que estava tomando o seu banho quando de repente, ele levou um susto que o fez gritar pelo pai.

O quartinho se iluminou com intensa luz e aparentemente do teto, começou a despencar milhares de moedas de ouro que caíam e se amontoavam no chão. Aquilo mais parecia uma cachoeira dourada; cintilante. Quando ouviu o grito do filho, meu avô imediatamente correu até o quartinho do banho e ao chegar à porta, não podia acreditar no que os seus olhos viam; ficou paralisado, observando hipnotizado.

Segundo o relato do meu tio, o meu avô ficou assistindo aquela incrível cascata de ouro que caía barulhenta e formava uma pilha de moedas de ouro no chão. Meu tio, ainda pequeno, também assistia em choque o que estava acontecendo; assim como o meu avô, que via aquela cena sem entender nada. Olhos arregalados, espelhando o brilho da riqueza. Porém, o meu avô deveria ter corrido em direção ao ouro, se ajoelhado no chão, colocado as suas mãos sobre o tesouro, como quem se apossa de um desejado presente e ter feito uma oração em sinal de gratidão.

Mas o meu avô não fez isso. Acho que ele não se lembrou da lenda, ou não a conhecia naquela época. Ao invés disso, ficou na porta do quartinho; extremamente assustado com aquela oferta espectral que se manifestava diante dele e do meu tio. Não dá para culpa-lo. Quem não ficaria paralisado de medo ao ver uma coisa dessas? Qualquer um ficaria no mínimo confuso. É bem provável que inconscientemente, os dois foram imobilizados pela dúvida; pois naquele momento, eles não souberam definir se aquele fenômeno era uma coisa do Bem ou do Mal.

A Chuva Dourada durou alguns segundos, uma enorme quantia em moedas de ouro se acumulou no chão e como um passe de mágica, desapareceu diante deles. O quarto voltou a ficar como estava antes, iluminado apenas pela luz das velas. Meu tio e meu avô se olharam, boquiabertos. Naquele momento, meu avô se deu conta de que poderia e deveria ter feito alguma coisa para garantir o recebimento do presente que lhe fora ofertado, e como não fez nada, havia perdido uma fortuna. Ele nunca se perdoou por aquela especial oportunidade perdida.

Adriano Besen
Enviado por Adriano Besen em 15/05/2021
Código do texto: T7256180
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.