Mistério no matagal

O ano era 1977. Em algum lugar remoto do interior do Brasil, vivia uma família de sete irmãos junto com seus pais; a casa era de uma arquitetura tradicional do período, consideravelmente ampla, suas janelas e portas eram azuis e as paredes eram de um branco tipo cal.

A vizinhança quase não existia. Eram poucas famílias por lugarejo, nesse especificamente, as casas ficavam em sítios relativamente grandes e os vizinhos mais próximos estavam há alguns quilômetros de distância.

No cair de mais uma calma noite de outono, o pai chegava em casa depois de um longo dia de trabalho. Os filhos bagunçando pela sala, ao ouvirem a caminhonete rural estacionando, vão para a porta recebê-lo enquanto as filhas ajudavam a mãe a preparar a janta. Ele havia chegado a tempo, como de costume, pra reunir todos ao redor da mesa pra ceia.

— Fala, seus pestinhas! Como foi o dia? Brincaram muito?? Ajudaram a mãe?

— Olá, papai! – respondeu o caçula.

— Oi, pai! Como foi o dia do senhor? Aqui foi tudo bem. Só o menorzinho que ficou perturbando. Mas agora ele já acalmou. – argumentou o filho mais velho.

— Tudo bem! Ele é levado. Puxou a vocês. Trabalhei muito, mas o dia foi bom. — Falou o pai com aquele sorrisão no rosto por ter chegado pro merecido descanso e poder jantar em família, além de ter encontrado todos bem; as crianças tinham apenas alguns arranhões das escaramuças diárias.

Foi até a cozinha e deu um abraço nas filhas, que abriram aquele sorriso. Depois beijou a esposa.

— Vou ajudar a montar a mesa, mulher.

— Tá bem, meu velho. Hoje é carne seca no feijão, arroz e abóbora.

Jantar pronto e mesa preparada. Todos felizes e reunidos. As crianças não paravam de brigar e brincar nem durante a janta. Mas todos já estavam acostumados com aquela intensa e caótica convivência de um lar vívido, de quase dez pessoas, porém, ali claramente havia muito amor.

Após o jantar, todos já se preparavam pra dormir. Até que o caçula grita:

— Papai! Papai!

— Que foi dessa vez, caçulinha?! Vai dormir. — esbravejou um dos irmãos.

Então o pai, que estava no banho, foi ver o que acontecia.

— Que foi, meu filhotinho?

— Lá, papai! – apontava o menino.

Os outros irmãos logo foram à janela em que o caçula se encontrava. E pra surpresa de todos... quando olharam pro lado de fora, viram um clarão e o que parecia ser uma bola de fogo em meio ao matagal.

O pai e os filhos ficaram espantados com a estranheza do que viam. Logo veio a mãe com as filhas.

— O que tá acontecendo, meu velho? Deus do céu! O que é aquilo?

— Como eu vou saber, mulher! Fecha a janela. Leva as crianças pro quarto, vou lá ver.

— Melhor não! Não sabemos o que pode ser.

— Claro que vou. Não vamos conseguir dormir sem saber o que tem lá. Pode deixar que vou levar a minha espingarda e a lamparina.

E lá foi o chefe da família. A curiosidade não deixou os outros irem pro quarto. Ficaram todos se espremendo pra espiar pelas frestas da janela, inclusive a mãe.

O velho era corajoso. O clarão estava distante. Mesmo assim lá foi ele em meio ao mato escuro, a única luz pelo caminho era a brilhante lua cheia, a pequena chama da lamparina e a da própria bola de fogo.

Quanto mais ele se aproximava mais o clarão diminuía... já da janela, a família via a luminosidade cada vez maior e a suposta bola de fogo aumentando a cada passo que o pai dava em sua direção.

Todos estavam muito assustados! Ele seguiu, mas a bola de fogo nunca chegava. De repente, ouviu sons de passos bem próximos, como se tivessem pisando nas folhas caídas no chão. Rapidamente começou a apontar à sua frente a espingarda devidamente carregada.

Na casa a cada movimento inesperado do pai, a família soltava um suspiro, mas sem dar qualquer pio.

Foi quando todos ouviram um barulho estridente e sombrio parecido com um uivo. O pequeno cachorro da família estava encolhido na varanda.

— Vish!!! Que barulho foi esse? soltou um dos irmãos.

Momento em que todos fizeram "shiuuu!".

O velho no matagal ficou ainda mais alerta com sua espingarda tremulando nas mãos. A situação era tensa e de amedrontar até os mais corajosos. Ele também havia ouvido o uivo, mas as pegadas haviam desaparecido. E a bola de fogo... de repente sumiu de sua visão. Decidiu então voltar pra casa.

Da janela, todos praticamente paralisados de pânico, viram aquilo que parecia ser uma gigantesca esfera de fogo, de cor avermelhada, aumentar desproporcionalmente de tamanho e o pai estava apenas há uns 5 metros de distância. Então, abriram a janela desesperados e começaram acenar e a gritar pelo velho.

Ele apressou os passos de volta pra casa. Quando ouviram um novo e, dessa vez, longo uivo!

O pavor aumentou.

O pai chegou de volta, bufando de cansaço, conferiu em volta da casa e não viu nada. Olhou a caminhonete, e tudo certo por ali também. Mas pra se precaver, levou até o pequeno cão pra dentro.

Encontrou todos muito mais apavorados que ele.

— O que houve? Por que não foram dormir? Viram alguma coisa??

— Você não viu, velho? Aquela bola de fogo gigantesca. Você se aproximou demais dela e aquilo ficou gigante! Como teve coragem?

— O que você tá dizendo, mulher?! Não tinha nada lá. Só vi aquele clarão de antes, mas quando tava me aproximando o troço sumiu.

— Não é possível, pai! Todos nós vimos a gigantesca bola de fogo vermelha. E o uivo, o senhor ouviu?

— Sim! O uivo eu ouvi. Mas pode ter sido o cachorro dos sítios da vizinhança. Mas não tinha nada de bola de fogo gigantesca lá. Se tivesse não teria como eu não ter visto.

Foram todos tentar dormir ainda muito encucados e arrepiados de medo com o acontecimento, que acabaram de presenciar. Sussurrando baixinho para os pais não ouvirem...

— O que era aquela coisa?? E esse barulho de fazer cagar de medo? –Ficaram se perguntando o resto da noite.

O pai, por precaução, ficou sentado na sua cadeira de balanço de frente pra porta, com uma garrafa de cana, o fumo de rolo aceso e a espingarda carregada.

LiteratoVidal
Enviado por LiteratoVidal em 04/04/2021
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