A MENINA DAS ESTRELAS

 

          Existem acontecimentos que ocorrem em nossas vidas que contrariam as leis naturais que regem os fenômenos ordinários, que se apresentam como superior à natureza. Por mais que se estude, ainda não foi encontrada cientificamente nada de real sobre a paranormalidade, tudo que se sabe é que na maioria das vezes estariam associados; a ficção, religião e ao ocultismo.
         Portugal é um país lindo localizado no sul da Europa na península Ibérica fronteira com a Espanha, banhado pelo oceano atlântico. De maioria católica, tendo em vista o contexto histórico, que vivenciou no passado, mas tem presença significativa de outras religiões.
           A nossa história começa na pequena e belíssima cidade costeira de Nazaré, conhecida internacionalmente pelas suas ondas gigantes, durante o período de inverno, que atrai surfistas e espectadores de todo o mundo. É uma localidade surpreendente e é também destaque pela milagrosa estátua de madeira de Mandona Negra, que segundo os seus devotos é milagrosa.
          Era uma bela noite de verão portuguesa, soprava um vento fresco na praia do norte, em uma vila de pescadores, localizada em Nazaré, Cristian Vieira, homem acostumado as coisas do mar, pois era da pesca que sobrevivia com sua mulher, Noeli, estava à espera de que algum peixe fosse fisgado pela sua linha, enquanto isso não acontecia observava a maravilha do firmamento azul, qual o manto da Virgem de Fatima, encantado pela apoteótica beleza da lua e suas bailarinas estrelas que desenhavam uma fascinante coreografia.
          De repente algo estranho aconteceu que chamou à sua atenção, em toda sua trajetória marítima nunca tinha visto nada igual, era como se fosse uma estrela cadente, mais não era, tinha um brilho diferente, continuou iluminada e desapareceu sob às águas.
          Já passava de 1h da manhã, quando ele cansado de tanto esperar e sem conseguir nada resolveu ir para casa. Estava a caminhar pela orla, quando a luz do farol da barra iluminou, alguma coisa na areia cor de marfim. Rapidamente apressou o passo ao se aproximar, sentiu suas pernas tremerem e perdeu os sentidos. Não soube determinar quanto tempo ficou desacordado, quando despertou, pensou que tinha sonhado que tudo era produto da sua imaginação, mas na verdade tudo era real, ele estava ali, e ao virar a cabeça para o lado a encontrou sentada e olhando para ele. Era uma linda menina de cabelos louros longos, olhar azulado, e de pele branca como os raios do luar, deveria ter talvez uns 10 anos, ainda atordoado balbuciou algumas palavras – Quem é você? – O que ocorreu? Seu sorriso era como de uma deusa que só existe na nossa imaginação, pois não era real e ele mais uma vez desmaiou.
       Não soube precisar qual o estágio de inconsciência que se encontrava. Suavemente escutou aquele sussurro, que se assemelhava ao canto das sereias que ele tão bem conhecia – senhor, Cristian, acorde preciso da sua ajuda, foi abrindo os olhos aos poucos e ela estava ali lhe fitando, e mais uma vez lhe perguntou: o que aconteceu? – Quem é você? – Como sabe o meu nome? Então ela lhe respondeu – Não sei o que aconteceu comigo, nem tão pouco sei quem eu sou, não recordo de nada, quanto ao seu nome o senhor pronunciou várias vezes e chamando por Noeli.
    Cristian estava apavorado, aos poucos foi recobrando a consciência levantou-se, e disse – não sei quem você é, mas é preciso que saíamos daqui eu moro aqui perto, minha esposa, Noeli, me aguarda já deve estar preocupada com a minha demora – você está ferida? Aí foi ela que não entendeu? – como? – perguntei se você está bem? ela levemente baixou a cabeça dizendo que – sim. A caminhada não foi muito longa ao chegar, Noeli, já o esperava ansiosa e o susto foi tão grande que ela se sentiu mal e quando se refez perguntou-lhe – Cristian o que aconteceu? – Quem é essa menina? – Onde você a encontrou? Então ele lhe contou tudo que tinha acontecido, e afirmou que poderia ter ocorrido algum naufrágio e, ela teria sobrevivido e que quando amanhecesse ele iria procurar notícias com a vizinhança. Agora era hora dela se banhar e troca de roupa para dormir.
       Nada se sabia da origem daquela criança, não tinha existido nenhum acidente ou fato, que viesse explicar de onde ela havia surgido. Como ela não lembrava do seu nome passou a se chamar, Divina Luz. Já transcorrera 3 anos, hoje Divina Luz, estava com 13 anos. Tinha uma inteligência fora do comum e era amada por todos que a conheciam, pois era dedicada não só à família que acolhera, mais também com aqueles que precisavam de ajuda. Tinha o dom de ser uma pessoa sensitiva, dotada de uma percepção extra-sensoral, que surpreendia a todos. Certa vez, Cristian estava pronto para ir pescar, como sempre fazia, saía no final da tarde e retornava ao amanhecer com o pescado que comercializava nos bares e restaurantes do vilarejo, quando Divina lhe interceptou – pai não vá hoje ao que ele respondeu – porque filha – você não sabe que o mar é única fonte de renda para a nossa sobrevivência, e ela novamente insistiu – mas hoje não. E, ele a obedeceu e realmente não foi. A madrugada foi um tanto turbulenta o oceano estava agitado com ondas gigantescas, algo fora do normal para aquela época do ano, pois era comum que tais fenômenos acontecessem no inverno e não no verão. Quando o dia amanheceu tomou conhecimento que ocorrera um forte terremoto na costa e que todos que estavam na água pereceram.
         O lugar era magnífico, pois apesar de ser uma das praias famosas de Nazaré, era afastada do centro e mais próxima da natureza, era um paraíso terrestre. Divina Luz costumava ficar horas e horas observando as estrelas como se estivesse interagindo com elas em uma troca de mensagens constantes. Mas, a vida mudaria o seu curso, dando lugar a tristeza e ao desânimo. Cristian foi acometido de uma doença grave, uma infecção bacteriana que os médicos não conseguiam identificar à sua origem. O tempo passava rápido e ele cada vez mais ficava debilitado. Após um mês de internação, ele recebeu alta e retornou para o seu lar sem ter conseguido a cura para a sua enfermidade.
        A angústia tomou conta de Noeli Vieira, era o fim dos seus sonhos, tantos planos feitos e que agora jamais seriam realizados, passou então a conviver com a dor da perda, Cristian, já não falava, talvez estivesse no estado terminal e seu quadro era irreversível para ciência médica.
         Era verão, o céu estava belíssimo igual àquele que Divina Luz, foi encontrada por Cristian na beira-mar. Noeli, sentiu a falta dela e ao procurá-la não a encontrou, ficou preocupada, pois ela seria a sua única companheira e começou a chorar desesperada, sem conseguir encontrá-la. Cansada adormeceu na pequena sala de estar encostada a um cesto de palha.
        Já era bastante tarde, quando um intenso brilho ofuscou sua vista, vinha do quarto onde estava Cristian, e correu para lá assustada e quando adentrou no pequeno cômodo, se deparou com uma visão extraordinária. Ali estava, Divina Luz, envolta em uma auréola brilhante, era uma luz que jamais tinha visto em toda à sua existência. Tentou pronunciar algumas palavras mais não conseguiu. Foi então que ouviu a voz de um anjo ressoar no ambiente. Não se preocupe, Noeli, sou eu, Divina luz, eu não sou da terra, vim cumprir uma missão que me foi dada, a de estudar o coração dos humanos, pois de onde venho só conseguimos enxergar maldade e desamor na raça humana, mas vocês me convenceram do contrário, são bons. Desde o momento que o seu marido me encontrou naquela madrugada, eu só pude constatar bondade em seus corações, hoje completa 4 anos da minha estadia aqui, é hora de partir, Cristian, está curado, não vai morrer, diga para ele que continue semeando, o bem, pois somente assim ele continuará colhendo o amor. E, sempre que vocês sentirem saudades de mim, basta comtemplar o firmamento à noite, pois estarei lá, olhando vocês. “EU SOU DO MUNDO DAS ESTRELAS”.


NOTA DO AUTOR: Esta é uma obra de pura ficção qualquer semelhança é mera coincidência.

Autor – José Valdomiro Silva




 

 

JValdomiro
Enviado por JValdomiro em 08/02/2021
Reeditado em 02/05/2022
Código do texto: T7179863
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