Paraíso dos perdidos
Velejava vagarosamente à noite, não tinha hora para voltar e nem queria voltar... Saiu já tarde para o mar, não levou nenhuma rede, nem sua vara, apenas o seu corpo e os pensamentos confusos e revoltos para acalmarem-se nas tranquilas águas.
Uma brisa leve ia contra o seu rosto e naquele embalo da natureza sentiu sono. Dormiu.
Quando abriu os olhos julgou estar num sonho, mas não era, não...
Pisava num chão feito de ouro em pó, como as areias da praia, num grande vão azul inexplicável. O céu parecia o matutino já conhecido de tanto tempo, mas não havia uma nuvem sequer.
Ao fundo havia uma pessoa vestida de um manto grosso avermelhado e cheio de ornamentos ao pé de uma árvore de tronco negro e folhas arroxeadas.
Um sentimento de desespero surgiu de repente quando viu a pessoa ir embora, estava sendo engolido, aos poucos, pelo pó dourado... Correu para socorrê-lo, mesmo que não mostrasse necessidade.
Chegou tarde, ele já havia sumido naquele chão. Ficou apenas a árvore intrigante.
Alguns frutos semelhantes à maçãs eram visíveis agora de perto. Miúdas, do tamanho de bolinhas de gude e do mesmo púrpuro das folhas.
Onde estava?
Percebeu que era essa a pergunta a se fazer e nunca mais foi encontrado por sua família, nem por ninguém.