O mistério na padaria
O mistério na padaria (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)
Sexta-feira. Coincidentemente, o dia era 13. A noite calorenta, pois o mês de dezembro se iniciava e já marcava o final do ano muito abundante para o Manoel, o dono da velha padaria da esquina. Matilde e Manoela eram as duas atendentes que faziam o plantão naquela noite. Muito movimento e o padeiro foi convocado para assar mais uma fornada de pão, o garoto propaganda da padaria.
José Antônio, um freguês ativo e muito brincalhão, muito culto, estudioso de vários assuntos dentro da área de Psicologia, Parapsicologia, com mestrado em Física Quântica, cursos de várias disciplinas, sempre ia ali todos os dias. Gostava do pão de sal bem fresquinho, o mais quentinho possível. Lá, enquanto uma das atendentes o atendia, ele mesmo ia até à forma e já tirava o pão de sal quente. Com uma das facas e a lata de manteiga, ele cortava o pão, colocava a manteiga dentro dele e sentava em uma das cadeiras que estavam junto às mesas. Sem olhar para quem estivesse ali, ele comia o pão de sal com manteiga rapidamente. Depois, pedia um copo de leite bem morninho e o tomava. Fazia uma pequena paradinha. Olhava para um dos lados e abaixava a cabeça rumo ao bolso do paletó, porque ele somente andava de terno e gravata, mesmo fazendo frio ou calor, ele estava constantemente vestido com terno. Do bolso, tirava algumas folhas escritas e iniciava a leitura. Ele era muito solicitado para ministrar cursos. Professor e pesquisador aposentando, viúvo, sem filhos, ele sempre estava lendo algo. Com a mão direita, manipulava algumas mensagens ou textos diretamente no aparelho celular. Após algum tempo, ele se levantava e se dirigia ao balcão. Era de costume levar mais alguns pães e leite. Ia ao caixa e pagava a conta sempre com cartão, pois não carregava nenhum dinheiro. Tinha ódio de contar ou conferir dinheiro.
Quando se dirigia para ir embora, foi lhe aproximando uma jovem, de cabelos pretos, olhos verdes, usando óculos que confrontavam com o delicado rosto. Vestia um jaleco branco, que se misturava com uma calça comprida na cor azul clara. Vestia-se também, uma blusa na cor clara. Aproximando-se dele, disse-lhe.
- Doutor, o que irá acontecer nesta data do dia treze?
Ele, olhando repentinamente para a garota, ainda meio desconcentrado da conversa e nunca a tinha visto ali, disse:
- Senhorita, hoje, eu não sei o que acontecerá. Nesta data, do dia treze deste mês de dezembro, muita coisa acontece ou acontecerá. Deixe-me pensar ou prever o novo acontecimento.
O professor era muito culto. Tinha a fama de contar muitas mentiras, contar piadas e também falar muitas verdades.
Enquanto ele pensava, vendo aquela jovem muito educada, bem vestida, deduziu que fosse uma nova funcionária da padaria. Era nova naquele momento. Ele, porém, lhe disse:
- A Senhorita é nova por aqui?
Com um lindo sorriso que mostrava os belos dentes bem brancos, usando aparelho ortodôntico, ela assim respondeu:
- Sim, Senhor Professor. Sou a mais recém colaboradora contrata pelo tio Manoel. Eu venho de uma aldeia lá em Portugal. Cheguei aqui quando era pequena. Meu pai faleceu quando ainda criança. Minha mãe foi funcionária pública na cidade de São Paulo. Ela se aposentou e quis morar aqui nesta cidade. Eu estudei e faço o curso de Administração na escola federal desta cidade. A escola está em greve e o Tio Manoel pediu-me para passar algumas orientações a esta empresa. Estou aqui, porém somente trabalho na parte de dentro, no escritório, durante o dia todo. Por volta das dezesseis horas, eu deixo o escritório e me preparo para ir à escola. Estou muito feliz aqui e sempre ouvi boas recomendações a respeito do Senhor.
Com estas palavras, o velho professor ficou feliz em saber que aquela linda jovem estava estudando. Perecia ser uma ótima pessoa. Jovem, bonita, muito bem educada, sobrinha do dono da padaria, ela poderia ser uma excelente profissional na administração do negócio do Tio.
- Fico feliz por saber de sua vida, minha linda e educada jovem. Gostaria de saber e lhe faço um convite para estudar mais, assim que terminar a graduação. Faça mais cursos e seja uma grande cátedra universitária. Fui professor por muito tempo na faculdade e até hoje eu gosto de ministrar os cursos. Sou feliz e espero vê-la na mesma felicidade em ser educadora. Seja, portanto, muito feliz e gostei muito de conhecê-la.
Já ia saindo, quando voltando rapidamente e chamando a jovem pelo nome, disse:
- Com relação ao dia de hoje, dia treze, vou ser rápido e sincero.
- Neste prédio, há cento e cinquenta anos, moraram dois casais. Eram casados e mantinham entre eles relações bem diferentes das relações normais. Moravam todos juntos e tinham os mesmos hábitos. Dizem que eles sempre aparecerem lá na cozinha, mais precisamente perto do banheiro, onde, segundo a história, morreram os quatro no mesmo dia, na mesma hora, no mesmo minuto e no mesmo segundo. Ninguém os encontrou. Somente foram descobertos quando construíram este prédio aqui. Estavam todos abraçados. Muita atenção. Conte para as outras.
Meio misterioso, o professor se retirou. A jovem ficou pensando nas palavras daquele sábio. Sorriu internamente e pensou que era mais uma brincadeira dos que ali estavam ou frequentavam.
Os minutos foram passando. Uma hora se passou e tudo mudou. O calor, que até o momento estava forte, foi ficando fraco. Uma brisa suave soprava e fazia com que a temperatura caísse a cada momento. Rajadas de vento vieram e tomaram lugar da lenta brisa. Nuvens negras foram surgindo abruptamente e fecharam a luz lunar que pairava naquele momento. Clarões eram vistos aos arredores e estrondos eram ouvidos a cada momento. Era momento de pânico. As janelas eram sopradas com tudo e a primeira queda de energia era sentida, desligando os equipamentos e somente não parando o emissor de cupom fiscal porque tinha energia própria. Era o caos se formando.
Correndo para os fundos, pois temia que as janelas do depósito estivessem abertas e águas da chuva viessem a molhar os insumos da produção, a jovem se deslocou para lá com a finalidade de fechar tais janelas. Trombou com o padeiro e este disse que a situação estava muito caótica. Ele assim disse:
- Moça, tem algo estranho acontecendo ali, perto do banheiro. Eu fechei as janelas, fechei o vidro do banheiro, a porta da despensa. Está tudo certo, porém não consigo entender o cheiro forte ali. Vi quatro pessoas abraçadas.
- Com todo respeito a você, porque eu sou casado e tenho filhos, sou fiel à esposa, vi quatro pessoas que faziam sexo e estavam totalmente nuas.
- Eram todos velhos. Deveriam ter perto de noventa anos de idade e se abraçavam todos ao mesmo tempo.
- Não tem nenhuma passagem aqui. Eu estou com medo e vou acender as velas que trago comigo.
A jovem viu aquela cena e pegou no braço do padeiro e saíram correndo. Contaram o que estava acontecendo aos outros e todos foram para fora da padaria. Choveu muito e ficaram molhados.
Até hoje ainda não sabem dizer o mistério da padaria, porque todo ano, no mês de dezembro, os dois casais aparecem na padaria e fazem orgias. Desaparecem para voltar no próximo ano.