O Sorvedouro
Ela agarrou-se ao pedaço de madeira, rezando para que o dia nascesse logo. Depois da tempestade que havia destruído o barco, tudo ao seu redor parecia estranhamente calmo, ouvindo-se apenas o ruído das ondas que se quebravam contra os destroços. À sua volta, escuridão; a noite já havia caído e o céu estava negro como tinta nanquim.
Subitamente, sentiu que estava mudando de direção, como se houvesse sido apanhada por uma corrente marítima. A água, que antes estava fria, agora começara a ficar perceptivelmente morna, o que por um lado era reconfortante, mas por outro lhe trouxe novas interrogações: será que havia um vulcão submarino por perto?
Isso não explicava a tempestade que a deixara naquela situação miserável, e sequer se lembrava em detalhes do que as cartas de navegação diziam sobre aquela região remota do Pacífico. Mas, sem dúvida alguma, havia vulcões submarinos nas redondezas. Nenhum que emergisse na superfície como ilha, tinha certeza absoluta.
A correnteza estava mais rápida, arrastando o destroço ao qual estava agarrada com seu colete salva-vidas, e os demais pedaços do barco. Começou também a ouvir um ruído surdo que pouco a pouco foi se sobrepondo ao som das ondas. Não conseguiu identificar do que se tratava, mas lá no fundo da mente, a ideia de que poderia estar sendo tragada por um vórtice marinho surgiu.
A escuridão era absoluta e aterradora, bem como a sensação de impotência. Não havia nada que pudesse fazer, a não ser agarrar-se ao destroço e esperar que não ocorresse o pior. Foi então que um relâmpago iluminou brevemente a cena ao redor: havia uma imensa coluna negra e luzidia emergindo das ondas à sua frente. Era para ela que estava convergindo, as águas espumando à medida que ganhavam velocidade.
A visão foi tão inusitada que sequer teve condições de sentir medo. A coluna era um objeto artificial, uma máquina de algum tipo. E o que estaria fazendo ali?
Instantes depois, enquanto era aspirada juntamente com os destroços, compreendeu que aquele dispositivo estava limpando a superfície do mar. Gritou, para tentar chamar a atenção:
- Eu estou viva! Socorro!
As águas a envolveram num turbilhão. Sentiu que descia num vórtice. Perdeu a consciência.
- [15-08-2020]