Atrás Daquele Olhar
Nhô Arfredo, o cachorro cumeu seu dedo!
Nhô Arfredo, o cachorro cumeu seu dedo!
Quem é que pode saber de onde vem o que passa na cabeça dos moleques? Não tenho certeza de que aquele homem se chamava Alfredo.
Ninguém se aproximava da casa nem do homem, mas de longe quando ele se levantava e esticava os braços para frente, apoiando-se em sua bengala, via-se que suas mãos eram defeituosas.
Mais baixa do que a rua de terra, a casinha de duas águas, duas janelas de madeira corroída e uma porta centralizada, toda em chão batido, há anos não era habitada. O mato não invadia por conta da grande quantidade de galinhas e cavalos que pastavam no seu entorno.
Desde que o jovem casal foi encontrado em meio a muito sangue sobre a cama, de onde foi levado o bebê, que não parava de chorar, a casa passou a ser vista como amaldiçoada, até aparecer sem saber de onde veio, aquele velho.
O bando de meninos, mal vestidos, descalços, com seus embornais nos pescoços, que rumavam para o Grupo Escolar; nas suas peraltices, gritavam provocando o velho: Nhô Arfredo, o cachorro cumeu seu dedo!
A bonitinha Miria (Miriam) com seus cabelos pretos, longos, presos de um lado, passava toda arrumadinha, limpinha, sua saia era azul marinho com suspensório do mesmo tecido cruzado nas costas, a blusa e meias branquinhas e sapatinhos pretos, brilhantes, empoeirados.
A Miria era diferente de todos. Ela passava muito devagar olhando sem parar para o velho. Ele se levantava do toco que ficava do lado de fora à direita da porta, apoiava-se sobre a bengala e trocava com ela o seu olhar até ela sumir na distância. Havia uma ligação misteriosa atrás daquele olhar!?
A família adotiva de Miria se mudou para outra cidade. O velho ninguém sabe dizer para onde foi. Os moleques não sentem falta de nada.