O feitiço do sapo
O dia estava quente e abafado
Aquela sensação de não sei oque, trazia uma dor no estomago e o ar não entrava direito pelo nariz de Zulmira.
Melhor um banho frio.
Entrou no banheiro, tirou a roupa e levantou a tampa do vaso na intenção de fazer xixi, mas pulou para trás com os olhos arregalados.
Bem ali dentro um enorme sapo preto estufando o peito querendo pular pra fora debatia se.
Embrulhando -se na toalha correu na direção da cozinha onde as suas duas ajudantes preparavam o lanche da tarde.
As criaturas riam baixinho em algum coloquio de segredos quando a patroa veio pedir socorro. Endireitaram-se para atende-la.
Zulmira pediu que fossem ajuda-la a retirar do vaso sanitário o sapo.
As duas trocaram olhares de cumplicidade e parecendo não acreditarem na conversa da patroa correram na direção do banheiro.
Comentaram de como seria possível aquele sapo entrar ali.
Não tinha condição, a casa era cercada de muros altos e os corredores ao lado eram de ladrilhos . Tudo muito limpo, lavado todos os dias
Sem chance, mas o bicho estava ali.
Zulmira afastou-se com aquela sensação estranha de que se aproximava uma tempestade.
Conseguiram tirar o sapo do vaso.
O pobre parecia aflito.
Zulmira pediu que o levassem ao terreno distante e o soltasse ,mas que não judiassem e nem matassem o pobre.
Quando voltaram disseram que o sapo tinha a boca costurada.
Um terror enorme entrou de cheio no plexo solar de Zulmira e ela deitou-se como se tivesse levado uma surra.
Conhecia muito bem historias de feitiço com sapos e maldições que exterminaram famílias segundo sua avó contara um dia, em passados anos.
A noite vinha chegando. Suas ajudantes se foram .
Zulmira sem saber oque pensar sentou-se na sala olhando ao redor a espera do esposo que não tardaria.
Mas assustou-se ao perceber que sua foto ali daquele porta retrato havia sumido.
Levantou-se e procurou pelo chão , atrás da cortina e não havia foto alguma.
Uma febre alta tomou conta do seu corpo e quando seu companheiro chegou ela estava caída no tapete e apenas contou-lhe o acontecido com meias palavras. Estava entrando em agonia.
Seu corpo estava cheio de bolhas vermelhas. Foi hospitalizada imediatamente por um marido aflito .
Faleceu antes do dia amanhecer.
Quando as ajudantes chegaram de manhã a casa já estava cheia de amigos e familiares estavam sendo avisados.
Aí uma das ajudantes falou para a mãe de Zulmira a historia do dia anterior afirmando que aquilo foi obra de feitiço do sapo . Elas bem conheciam os feitiços que aconteciam naquela região.
A mãe de Zulmira balançou a cabeça entendendo a situação pois aquela região do Mato Grosso era habitada por terríveis feiticeiros que por qualquer dinheiro espalhavam terror.
Os dias seguiram com cheiro de dor no ar.
A foto de Zulmira nunca mais apareceu,embora sua màe procurasse por toda a casa.
Muitos meses se foram ate tarde que a futura patroa entrou porta a dentro com ares de dondoca, dando ordens com arrogância e exigindo do marido, o ex da Zulmira, reforma total do banheiro e mudanças radicais na casa.
As ajudantes depois daquele dia nunca mais voltaram.
Comentários de vizinhos era de que a patroinha gastava tudo e muito mais com roupas caras, jóias e viagens.
O poder aquisitivo do ex marido de Zulmira causava inveja pra muita gente.
Era um garimpeiro rico sem duvida.
Havia enfrentado dias complicados no garimpo, mas tinha conquistado fortuna.
Mas apesar do dinheiro uma tristeza enorme impregnou seu olhar,uma insatisfação dolorida tomou conta dele de forma radical.
Foi assim...
Hoje em dia só existe lembrança da casa consumida pelo fogo de um lampião que explodiu, espalhando um estrondo terrível.
Lembrança de uma mulher vazia, mal informada e tola que se apoderou indevidamente do que não lhe pertencia. Que morreu com o corpo cheio de bolhas que o fogo tatuou sem dó e de gemidos como uivos de lobo pedindo perdão.
Dizem que o marido se foi em busca de paz .
Contam que foi buscar proteção dos seres do interior na serra do Roncador.
Será?
Ninguém nunca mais soube dele ..
Ravagnani S C