A MOÇA DA GARRAFA

Tom era um jovem muito solitário. Não tinha muitos amigos. Nenhum com quem pudesse contar de verdade. Nenhum que se importasse com ele. No entanto, era um menino muito bom, super gentil, honesto, educado, inteligente, enfim, possuía todas as qualidades para se tornar popular e desejado pelas garotas. Mas não era assim, Tom passava a maior parte do seu tempo só e nunca tivera uma namorada. Sua opção pelo isolamento e pela introversão, de certo modo, contava com o aval dos amigos e parentes que nada faziam para mudar a triste realidade. Tom parecia gostar de viver só e estava se acostumando com isso. Não temia a solidão, mas o seu coração dava provas de cansaço. Decidiu que precisava de férias e resolveu viajar para uma praia na região litorânea do Rio de Janeiro, em Arraial do Cabo. Tinha o objetivo de escrever uma estória nova para a sua vida. Produzir um livro que falasse de um amor verdadeiro e que deixasse um importante legado para a humanidade. Quem sabe pudesse inspirar outras pessoas? Preparou tudo e viajou. Acampou-se na Praia Brava, uma praia quase deserta e de beleza inigualável. Acreditava que a privacidade oferecida pelo local lhe propiciaria condições ideais para as suas intenções. Possuía alimento suficiente e provisão para alguns dias. Inicialmente nada de muito interessante aconteceu e Tom não conseguiu escrever nada. Numa tarde, porém, quando admirava as águas cristalinas do mar, a luz do Sol refletiu em um objeto que boiava à margem da praia. De início, teve dificuldade para identificá-lo, mas logo percebeu que se tratava de uma garrafa. Não uma garrafa qualquer. Aquela era muito diferente. Era muito bonita, delicada e fina. Parecia relíquia. Ao passar as mãos sobre ela para tirar o limo acumulado, teve uma admirável surpresa. Dentro da garrafa via-se uma fotografia de uma linda jovem. A mais bonita que já vira. Presa à rolha, havia ainda uma mensagem com a seguinte mensagem: QUE O UNIVERSO PROMOVA O NOSSO ENCONTRO E UNA OS NOSSOS CORAÇÕES. Tom ficara encantado. Passara a acreditar mais no amor e estava disposto a encontrar aquela moça a qualquer custo. No entanto, não era tarefa fácil. Não tinha nada que facilitasse a sua localização. A moça podia ser de qualquer lugar do mundo. Tom decidiu chamá-la carinhosamente de Jô. Foi paixão à primeira vista. Desde então os dias ficaram muito mais agradáveis. A “presença” de Jô mudara tudo. Toda manhã Tom punha a mesa para dois e reservava uma xícara de café do lado onde colocara a garrafa. Tom conversava com Jô o tempo todo. Falava sobre todos os assuntos. Ela conseguira despertar a inspiração de que precisava para terminar a sua estória, a qual ganhava corpo a cada dia. Jô era o motor potente que fazia as frases brotarem em um turbilhão, uma correnteza forte de palavras e versos poéticos. A estória de amor mais linda do mundo, enfim, ficara pronta. Tom pôs duas taças de vinho à mesa e blindou com Jô o fim. Horas depois a polícia foi acionada para proceder até sua residência. Ao arrombarem a porta do seu apartamento, encontraram o jovem caído sem vida, vítima de envenenamento. Segundo informações, o jovem sofria de depressão e não conseguiu vencer a doença. Cometeu o suicídio e chocou seus amigos e familiares.

Vander Cruz
Enviado por Vander Cruz em 18/05/2020
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