DEPOIS DA MEIA NOITE

Ela me convidou discretamente, eu nem a conhecia direito, queria que eu fosse até sua casa, nos arredores da cidade, numa área quase rural. Eu disse que ia pensar e continuamos a tomar a cerveja que estava super gelada e o calor dessa manhã ensolarada me fez ficar ali mais um pouquinho a conversar com Sheila, esse era seu nome. Nos encontramos casualmente perto do bar, ela estava com sede e a procura de água mineral. Eu já estava determinado a tomar uma geladinha, me sentei por ali no bar e pedi uma cerva, ela imediatamente suspendeu a água e topou encarar a "loura suada" junto comigo.

Conversa vai, conversa vem, descobri que a moça havia estudado no mesmo colégio onde eu concluíra o segundo grau, só que Sheila havia ingressado um ano depois da minha saída, ainda conheceu uns ex-colegas meus. Nesse papo na mesa do bar ela se mostrou interessada em mim e insistiu para que eu fosse até sua casa, só que impôs uma condição: depois da meia noite. Aquele convite me deixou convencido de que seria uma noite e tanto, ou melhor, uma madrugada e tanto, mas ao mesmo tempo me deixou com um certo receio pelo fato do local ser um pouco ermo e afastado do bairro, além do horário estabelecido por ela. Fiquei dividido entre ir e não ir, estava com um desejo louco de curtir com essa desconhecida e acabei por anotar direitinho o endereço dela, por sinal um mulherão bem trabalhado pela natureza. Dali fui pra casa e ela seguiu seu destino rumo a área rural.

A noite chegou, eu já havia jantado e fiquei na frente de casa a matutar sobre o encontro, estava decidido a não cumprir o compromisso, foi quando passou um amigo meu e parou para conversar. Era Paulo, ele ficou a par do ocorrido e manifestou o desejo de ir ao encontro de Sheila no meu lugar. Achei esquisito, mas como eu não ia mesmo, dei-lhe o endereço e ele que se virasse, já que não tinha medo algum de alguma coisa sair errada. Fiquei com o pensamento naquele fato e fui dormir preocupado.

Na manhã seguinte fui a procura de Paulo na sua casa e ele não havia chegado, apesar de já ser quase onze horas. Voltei no final da tarde e a resposta foi a mesma, ele ainda não tinha chegado, o que me preocupou muito e me fez chamar um outro amigo para ir saber de notícias de Paulo. Em lá chegando, no endereço que Sheila havia fornecido, encontramos uma casa abandonada e em estado deplorável. Resolvemos adentrar e encontramos nosso amigo caído ao chão e todo ensangüentado com o pescoço dilacerado.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 05/11/2019
Reeditado em 03/07/2021
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