Lee.

Sempre me esqueço de perguntar à Lee se era ela que um dia caminhava ao meu lado numa avenida no centro de Montevideu em 2014. Me assombra o fato de suas características físicas e cognitivas serem tão parecidas com as de Glória, personagem recorrente de romances de Pedro Juan Gutierrez. Não sei se é por culpa da tradução abrasileirada mas, até as broncas que Glória dá no autor cubano parecem com as que eu levo da minha, como é dificil positivar isso... Amada.

Pinto hoje uma tela que comecei catorze anos atrás. Tento reproduzir uma visão arrebatadora e mortal que tive em uma época não muito feliz, que pode ter sido há uma década ou ontem. Porém, sem o calor, o cheiro e o timbre da voz de Lee me sinto embotado atualmente. Um dia ainda escrevo um grande romance épico onde ela será a heroína que salva a humanidade... Na verdade já escrevi este livro, mas perdi o arquivo e acho que a obra merece as devidas correções.

Voltando ao tema da metaficção, para usar um termo da moda académica atual, me vem à baila um episódio de uma série de TV norte-americana, a dizer: Shameless. Não perderei tempo explicando a conjuntura da trama, pois não é o que busco no presente momento.

Pois bem, o patriarca alcoólatra da horda de seres humanos miseráveis que o rodeia, é tentado por uma proposta de uma médica que lhe oferece dez mil dólares como recompensa caso ele passe duas semanas “limpo” ou seja, sem ingerir álcool. Tudo termina com os filhos dele injetando vodka numa artéria do pobre coitado para que a série continuasse como de costume. Parece que não é mais cool assistir programas sobre gente rica...

Me lembrou muito o experimento do soro n°114, da Laranja Mecânica, só que sem o glamour, a fotografia e a trilha sonora impecáveis da obra cinematográfica da década de setenta.

Projetando à frente, num sentido temporal, espero que Lee leia este texto. Pois, mesmo se ela odiar, já é um pretexto para nos vermos. É, eu sei, este conto está truncado e não flui naturalmente. Mas é assim mesmo.

Fim.