A pescaria
O domingo prometia tudo de bom. O sol amanheceu bem quente, pois foi resultado de muita chuva no dia anterior. Tudo indicava que poderia ter trovoadas no decorrer do dia, principalmente à tarde.
Paulinho e Juninho acordaram bem rápidos. Com os celulares cada um, uma simples mensagem de WhatsApp instantaneamente chegou, com o seguinte dizer:
- Que tal uma boa pescaria hoje, no Corguinho do Juá?
- Certo, mano. Estou disposto.
- Estou levantando. Vou pegar as minhocas, lá no quintal e iremos.
- Certo, amigo.
- Vou passar na padaria e comprar os lanches. Vai ser porreta.
Rapidamente os dois se encontraram próximo de suas casas. Eles moram no mesmo quarteirão e a distância entre eles é de aproximadamente trezentos metros.
Felizes da vida, iam eles. Cada um carregava a mochila com água, lanche, refrigerantes, uma caixinha de material de primeiros socorros, luvas, perneiras, enfim, uma carga, mesmo pequena, mas com todos os apetrechos relacionados a uma boa pescaria.
Não demorou muito, eles chegaram ao famoso Corguinho do Juá. Apesar do nome Juá, este pequeno riacho, ficava próximo à cidade. Mais ou menos uns quatro quilômetros. Iam pelo asfalto e andariam pelo menos uns quinhentos metros até a chegada. Ele passava em uma fazenda de criação de bois. Era pequeno e de baixa profundidade. O local era famoso por ter muito peixe. Tinham bagres, cambevas, lambaris, acarás e mais qualidades de peixes. Também, era muito comentado por sempre encontrar cobras, tais como jararaca, urutu e outras espécies. Desta forma, eles estavam precavidos e usavam perneiras.
Assim que chegaram, colocaram as bicicletas debaixo de uma árvore e se dirigiram até o local. Por ser de baixa profundidade, deveria ter uns cinquenta centímetros. A água estava muito suja e logo Paulinho jogou o anzol e fisgou o primeiro bagre. Era bem grande e o sorriso entre eles era enorme.
- Puxa, meu.
- Este é grande. Hoje vamos fazer uma boa catada. Vamos pegar bastante e pedir minha mãe para fazer uma boa fritada. Este é só o primeiro.
Juninho logo se ajeitou em um canto e foi pegando uma linda cambeva, porém ela se soltou do anzol e caiu novamente dentro da água. Ficou ele furioso e xingou algum nome feio. Imediatamente foi repreendido pelo amigo, que cantando uma música, assim dizendo:
- “Está nervoso, vamos pescar. Nome feio não vai fazer a cambeva voltar”.
Rindo e felizes, eles colecionavam uma grande quantidade de peixe. Deveriam ter pescado mais de trinta peixes.
O sol foi esquentando ao ponto de procurarem uma sombra, mas logo que chegaram ouviram um forte barulho perto da montanha. Olharam e viram que naquela região, o céu se cobriu de preto e forte chuva ameaçava vir na direção deles. Assustados, olhando um para o outro, Julinho disse:
- É, meu amigo. Parece o fim de nossa pescaria.
- Verdade, amigo. Quando começa a trovejar e a relampear, os peixes vão se esconder, porque querem abrigo e imaginam que os predadores venham atacar-lhes. Poderão ser cobras, jacarés, gaviões, enfim, um grande grupo de predadores. Isso não é bom.
- Vamos tentar pegar mais alguns antes da chegada da chuva. Eu trouxe duas capas de chuva. Caso ela comece, vamos vesti-las e iremos embora. Temos de ter muito cuidado com os relâmpagos. Estamos em zona aberta e segundo o professor de física, é muito perigoso e poderemos morrer por descarga elétrica.
- Certo, amigo. Vamos lá.
Com o aumento dos trovões e relâmpagos, a pescaria ficou ruim. Os peixes simplesmente sumiram. Não estavam aparecendo nos anzóis e nem mesmo mordendo as iscas. Tentaram a todo momento, mas tudo em vão. Algumas gotas de água começaram a cair sobre o riacho. Aos poucos, iam aumentando e eles se levantaram e se dirigiram até as bicicletas. Abriu a mochila em que estavam as capas e uma a uma vestiram. A chuva aumentou rapidamente. Muitos raios e trovões começavam a entrar pela paisagem. Lembravam os ensinamentos do professor de Física sobre descargas elétricas. Estavam eles debaixo da árvore. Juninho teve uma ideia:
- Vamos, amigo. Ali tem uma árvore derrubada. Tem alguns galhos. Vamos deixar a sacola com os peixes junto às bicicletas e esconderemos sobre a árvore. Assim que a chuva passar, vamos embora. A capa de chuva nos protegerá e ficamos fora do solo. Como diz o nosso professor, é que precisamos ficar isolados para não contrairmos corrente elétrica. Assim, o fizeram.
Por um grande momento, a chuva caia forte. Relâmpagos, trovões, ventos e até mesmo algumas pedras de granizo declinavam sobre eles, mas eles estavam juntos um ao outro e se protegiam.
Em certo momento, os dois viram um grande clarão passar sobre eles. Era mais quente do que os raios solares. Parecia uma bola de fogo e logo foi pairando sobre o pasto que estava à frente. Debaixo da árvore, estavam algumas reses, entre boi, vaca, novilho e novilha. Eles viram que um dos animais foi sugado pela luz e desapareceu em questão de segundos.
Meio azoados, eles saíram correndo, pegaram as bicicletas e partiram para às casas. Chegaram à casa de Paulinho e contaram tudo para os pais dele. Ficaram sonolentos e somente acordaram no outro dia, com fortes dores de cabeça, enxaqueca e muito sono. Foram ao médico, mas até os dias de hoje ainda clamam dores pelo corpo.