Marga
Eles casaram-se – tinham uma vida pela frente para aproveitar. Rogério e Marga tiveram uma filha, Helena.
Tudo caminhando bem na família. Saíam, se divertiam. O tempo se esvaindo – ele não para. Não pode parar.
Rogério passou a frequentar um prostíbulo. Nas sextas-feiras, com alguns amigos do serviço (eles trabalhavam num banco), lá iam. Começavam bebendo cerveja num bar. Ganhavam tempo – e partiam para o antro.
Passou ele – Rogério – a se relacionar com garota (do prostíbulo). Era mais jovem que a esposa Marga.
Do relacionamento nasceu uma paixão. Paixão tão fulminante que ele “virou a cabeça”. Não resistiu. Deixou a esposa, a abandonou, foi embora, foi viver com a jovem meretriz.
Claro, Marga sofreu um profundo golpe. Coisa humilhante. Não se conformou com a derrota. Pior, ela se revoltou, sentiu forte rancor, ressentimento. E ódio, o que não é bom.
Uma amiga dela a aconselhou a procurar a magia negra, para se vingar do ex-marido. Sua intenção era destruí-lo, tirar-lhe a vida de forma violenta.
------ Você conhece alguém que mexa com isso? Ela perguntou à amiga, chamada Dores.
------ Sim, conheço, é uma senhora, de seus 50 anos. Tem um consultório no centro da cidade. Faz diversos tipos de trabalhos, esses negócios de bola de cristal, mesa branca, búzios, cartomancia...
Fazia também trabalho para o mal, para levar doenças às pessoas, pobreza material, transtorno mental, falta de paz, desgraças, morte.
Marcaram um dia. E foram. Chegaram à casa, uma casa antiga. Entraram na sala da “mãe”, a Mãe Dolores, pessoa sorridente, e logo Marga sentiu leve mal-estar.
Dolores a encarou, fixou sobre um olhar macabro nela, Marga. Isso a assustou. Sentiu-se mal, algo negativo entrou nela, na sua alma. Depois se refez.
A jovem contou-lhe sua história, de o marido, Rogério, trocá-la pela prostituta, e por passar grande humilhação.
------ Quero que a senhora faça um trabalho contra ele, um trabalho bem pesado, maligno, forte - pediu.
------- Fique tranquila, minha jovem... Farei sim. E sorriu.
------- Tens uma foto dele?
Sim, ela respondeu.
------- Me traga. Venha aqui amanhã, no começo da noite. Venha só.
Ela foi, sozinha. Mãe Dolores pegou a foto de Rogério. A olhou por alguns segundos, olhar como se quisesse devorá-lo, matá-lo.
------ Vamos aqui, ela pediu à Marga. Foram a uma sala, nos fundos da casa. Abriu a porta. Ambiente na penumbra, cortinas vermelhas e pretas. Três imagens tétricas, ali, pareciam do Demônio, do Diabo. Cheiro de incenso. Fumaça.
------ Olha, minha jovem Marga, o serviço será apenas isso: Você fará pequeno corte em sua região genital. Traga o sangue nesta lâmina de vidro. O resto eu faço.
Fez como Dolores pedira. Deu-lhe a lâmina com o sangue.
------ Falta uma coisa. Se ajoelhe diante destas imagens, por 1 minuto. Como o rancor e ódio contra Rogério era imenso, e intenso, obedeceu. Ajoelhou-se.
Marga foi embora, já perto da 10 da noite. Estava tensa, nervosa. E exausta. Morava com a filha e a empregada.
Tomou banho, pôs a menina para dormir. Conversou com Maria, a empregada. Foi deitar-se. E não conseguia se acalmar, relaxar.
Sentia dificuldade para dormir. Lembrava daquelas imagens, demoníacas, satânicas. E da mulher, Mãe Dolores, pessoa dotada de poder do mal, do poder das trevas.
Foi à cozinha. Acendeu a lâmpada. Pegou um comprido, analgésico, para dormir. Ingeriu-o. Sentiu algo a roçar um de seus pés. Olhou, era um morcego. Deu um grito, levantando-se. Olhou para debaixo da mesa.
Não mais o viu, aquele animal repugnante. Ficou mais nervosa, agitada.
Sentou-se e, de repente, lhe surge uma imagem: A do demônio, roupa preta e vermelha, o mesmo que estava na casa de Mãe Dolores, a mulher da magia negra, da quimbanda, das trevas.
Ficou ali, congelada, suava frio, medo, pânico. Não conseguiu fazer movimento, nada, o pavor não permitia. À sua frente o príncipe das trevas. Nem gritar podia, estava sufocada.
Depois o rosto de Dolores, rindo, sarcástica. Marga sentiu-se mal, com forte dor de cabeça, falta de ar, dor no peito. Fechou os olhos, procurou se acalmar.
Relaxou, conseguindo se levantar e ir para o quarto. Deitou-se, dormiu, ao lado da filha. No dia seguinte, refeita do pânico, refletiu – se convencendo que não deveria fazer mal ao ex-marido.