Mordendo tomates
Depois de cuspir muito marimbondo, como era a regra, naquele dia o Toin Baiano saiu de casa foi mordendo tomates mesmo. Dona Tó, sua mulher e mãe de quase uma dezena de filhos seus bem que pelejara com a turma para saber o paradeiro da faca de cozinha, a única que tinham em casa, além do canivete do marido, cujo uso era exclusivo para picação de fumo de rolo; de preferência do preto, mais em conta, ainda que mais catinguento do que o baio.
Diante do insucesso no encontro da faca, o jeito foi botar o tomate inteiro na mesa. Havia chovido bem pela manhã, e o barro que tomava conta do largo da Cruz, servia ainda mais para atiçar a intolerância do patriarca, que tinha horário de fábrica a cumprir - era eletricista - diferente de seu mano Joaquim, também Baiano, mais folgado, barbeiro de profissão.
E da perrada toda de meninos submetidos ao interrogatório para se estabelecer o paradeiro da faca, meninas incluídas, faltava só o Dinho, em horário de escola e longe do vigilante olhar de Dona Tó. Mas com seu álibi quase que garantido, ainda que não fosse estudante dos mais distinguidos, por ausências e recreios tão estendidos...
E não dera outra: exímio jogador de finca, em rua adjacente ia o Dinho dando suas fincadas, fazendo canto de casa, e resolvendo muito jogo no grito mesmo. Não admitia perca de jeito maneira.
Até aquela manhã tão bela em que fora apostar a faca...