A ESTRANHA DULCE - UM ESTÁGIO ENTRE A VIDA E A MORTE

    Eu vi a senhora Josefina em uma cama de hospital, uma sensação de angústia se apoderou de mim, ela não reconhecia nenhum dos parentes, sua doença era irreversível, estava alí há bastante tempo e só Papai do Céu para lhe dar o conforto merecido no auge dos seus quase cem anos. Seu olhar concentrava-se no vazio, praticamente não enxergava nada, assim eu imaginava, apesar dos poucos movimentos que fazia com a cabeça e com os olhos, no pouquíssimo tempo em que ficavam abertos. Fiquei imaginando o que se passava naquela mente, já que estava viva e alimentando-se através de sonda. Será que essa vida vegetativa tinha algum sentido?

    Saí do quarto que ela dividia com outros pacientes e me sentei em um banco lá fora, fiquei imaginando sobre a possibilidade de me ver nessa aura onde d. Josfina se encontrava e como ela "vivia" esse seu sofrimento em um mundo paralelo ao nosso. Pensando nessa possibilidade adormeci e senti que alguém havia sentado ao meu lado. Mesmo em quase profunda sonolência pude perceber que era uma mulher e, inexplicavelmente, eu a conhecia, era Dulce, que se prontificou a me levar aonde eu queria, ou seja, a esse mundo desconhecido onde d. Josefina se encontrava. Ela me pegou pela mão e me induziu a segui-la, caminhamos por algum tempo e nos deparamos com um lugar maravilhoso, bem florido, com um dia claro e de céu azul. O perfume das flores me seduziu, vi pessoas felizes desenvolvendo atividades as mais diversas, umas liam, conversavam, outras se encontravam em ambientes semelhantes a escritórios, entrevistavam outras pessoas, tudo isso me deixando deslumbrado. Num certo momento vi d. Josefina que acenava para mim, aparentava ser bem mais jovem, sorria e disse-me logo de cara que estava bem. Esse era o mundo de quem estava ainda no outro desprovido da sua consciência terrena, aparentemente em sofrimento aos olhos de quem lá estava. Neste mundo onde ela estava, disse d. Josefina, as coisas eram dessa forma até que o sopro de vida na Terra se expirasse de vez. Aquilo me emocionou profundamente e pude perceber que nem sempre todo sofrimento é verdadeiro. Dulce apenas me olhava e sorria, até o momento da volta ao nosso mundo.

Acordei de repente com Dulce do meu lado me perguntando se eu estava feliz naquele hospital onde tinha ido visitar um parente. Respondi que sim com os olhos rasos d'água, peguei um lenço para enxugar as lágrimas e quando dei conta estava sozinho naquele banco. Fui até o quarto e me emocionei novamente vendo no semblante de d. Josefina um sorriso que antes não existia.

 

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 19/08/2019
Reeditado em 06/04/2023
Código do texto: T6723753
Classificação de conteúdo: seguro