PROIBIDA A ENTRADA! RISCO DE VIDA.
Ao sair para jantar nesta noite fria, ia eu andando distraidamente pelas ruas. Cabisbaixo, celular na mão checando as reações causadas pela minha última postagem no Instagram; e ao atravessar uma rua, escutei uma buzinada forte acompanhada por um cantar histérico de pneus; estranhamente formando um intervalo de quarta aumentada, o trítono, o próprio diabolus in musica. Achei divertido essa dissonância me causar este espanto em plena sexta-feira, mas antes que eu pudesse me deleitar com essa fuga musical, senti o impacto de uma colisão despedaçando meus ossos! Fui violentamente atropelado por um ônibus e meu corpo arremessado para o alto descreveu uma curvatura parabólica para logo em seguida estrebuchar no asfalto. Levantei-me rapidamente sem sentir dor alguma e dei aquela disfarçada básica olhando para os lados, para certificar-me se alguém tinha assistido tal cena deveras constrangedora. De repente notei meu próprio corpo imóvel no chão, e vi meu crânio rachado ao meio, jorrando sangue. Alguns transeuntes começaram a se aglomerar e aterrorizados, franziam o cenho e viravam o rosto benzendo-se, com o religioso recurso do sinal da cruz. Teria eu morrido?
Um pouco assustado, fiquei observando de longe e então um carro parou e o motorista me chamou fazendo gestos e buzinando. Era um Ford Escort verde barulhento e com pintura desbotada, bastante maltratado pela ação do tempo. Naquele momento de pura agitação, senti que era o próprio diabo que me chamava. Eu mais curioso do que você, fui até ele, que me convidou a entrar, sem dizer palavra nenhuma, apenas indicando com o polegar direito o banco do passageiro. Entrei no carro sem dizer nem ouvir nada, e enquanto eu entrava, uma ambulância parou e recolheu meu corpo, saindo às pressas, possivelmente para o hospital. Enquanto isso o carro do diabo seguiu em direção contrária e após isso não me lembro de mais nada.
Acordei sentado em um banco, em um corredor escuro, de um prédio abandonado sem ninguém por perto. O silêncio era absoluto. Me levantei e caminhei até chegar uma porta com a seguinte advertência:
"PROIBIDA A ENTRADA! RISCO DE VIDA."
Abri a porta e uma luz se acendeu. Desmaiei novamente. Despertei do sono deitado em uma maca, com um profissional da saúde vestido de branco sentado ao meu lado. Ele era muito parecido com o diabo que citei anteriormente, mas aí então ele me disse que eu estava de alta e podia ir pra casa. Sai daquele lugar desconhecido e descobri que aquilo era um enorme túmulo antigo do cemitério municipal.
Sumi de lá e corri para o primeiro bar que eu avistei e pasmem:
O senhor que me serviu este corote de pinga que estou a beber, é o próprio médico que me deu alta!