O VILAREJO SINISTRO
Existia em um vilarejo um pobre homem solitário. Seu João Carneiro foi o único sobrevivente da família após um massacre na cidade em que viviam. Passava necessidades e contava apenas com a ajuda de Kelly, uma jovem enfermeira que vivia a poucas casas de seu barraco.
O vilarejo costumava ficar deserto, tinha um certo clima de melancolia e na maioria das vezes os poucos moradores viajavam e ficavam meses fora, isso quando não se mudavam de vez. Kelly morava lá, pois, o lugar era próximo de seu trabalho, mas tinha a intenção de se mudar.
Certo dia, Kelly estava saindo para trabalhar, saía todo dia às 6:00 da manhã. O sol estava se pondo, parecia que o dia seria caloroso. Kelly entrou em seu carro e logo percebeu algo estranho, o vidro do banco do carona estava rachado. Ficou furiosa, pois, não era a primeira vez que aquilo acontecia. Pensou quem poderia ter feito, mas, sem sucesso com suas suspeitas, ligou o carro e saiu rumo ao trabalho.
Durante o caminho, Kelly sempre costumava ligar a rádio e assim o fez. Algumas estações estavam chiando, mas logo ela consegue configurar o rádio e uma boa música começa a tocar. No embalo da melodia, Kelly se balançava olhando para o seu lado esquerdo e direito. Tudo parecia normal, quando de repente o carro acaba ficando sem combustível. Kelly imediatamente saiu do carro e bateu a porta furiosa, achando novamente algo muito estranho, pois, havia abastecido o carro no dia anterior. Ela estava com a sensação de estar sendo saqueada.
Não perdendo tempo, pois, já estava atrasada para o trabalho, Kelly ligou para o reboque e ficou ali, no meio da estrada à espera. Ligou para o seu chefe para avisar do ocorrido e que chegaria atrasada, e ali ficou impaciente e intrigada. Sentou em um tronco que havia na beira da estrada e não demorou muito para sentir alguns mosquitos à incomodar. Mais irritada ficou e como se não bastasse, o sol parecia querer se esconder (já não seria um dia caloroso). Um vento frio bateu arrepiando todo seu corpo.
Passaram-se 15 minutos e Kelly recebeu uma ligação de Seu João. Ele estava muito debilidado devido a uma úlcera no estômago. Seu João perguntou se ela poderia ir visitá-lo assim que saísse do trabalho, e Kelly como nunca negava ajuda àquele pobre senhor, disse que mais tarde passaria em seu barraco para levar algumas coisas de comer e cuidar dele.
Já estava em quase uma hora e o reboque não chegava, foi então que Kelly ligou para o trabalho avisando que chegaria mais tarde do que imaginava, e em meio a grosseria de seu chefe, começou a chorar. Era um choro de desespero, medo e ódio. Levantou do tronco de onde estava sentada e começou a gritar por socorro, mas ninguém ouvia. Não havia ninguém na estrada e muito estranhamente não passava nenhum carro. Kelly sentou novamente no tronco e pôs-se a chorar de soluçar. E depois de 10 minutos, bastante exausta, acabou adormecendo de cansaço. Kelly ficou completamente a mercê do perigo.
Enquanto Kelly dormia, seu telefone tocou cinco vezes, mas nada fazia ela despertar. As horas foram se passando e por fim já escurecia. O sono estava tão profundo que Kelly não ouviu um grande estrondo vindo da mata próximo a estrada. Os grilos pareciam chorar, a cigarra cantava mais alto ainda, as formigas se escondiam com medo e o reboque não chegou. Kelly ficou naquele tronco adormecida até o amanhecer.
Durante a madrugada, o celular de Kelly havia tocado novamente diversas vezes, mas foi exatamente às 6:00 da manhã que o celular despertou (já era programado para todos os dias, por conta do trabalho). Kelly se levantou bastante assustada, suja de poeira e folhagens sem saber o que havia acontecido. Ficou durante 5 minutos perplexa quando se deu conta de que havia passado a noite no meio de uma estrada deserta. Bastante assustada, Kelly pegou seu celular e percebeu que havia várias ligações. O telefone já estava em 5% de bateria e já não conseguia retornar os telefonemas. A angústia invadiu suas veias de forma impiedosa.
Tomada por múltiplas sensações, ainda sim, Kelly deveria tomar uma atitude e assim o fez. Largou seu carro no meio da estrada e foi caminhando lentamente até sua casa, o vilarejo ficava a poucos metros da estrada.
Conforme Kelly ia caminhando, suas pernas ficavam dormentes, seu corpo totalmente dolorido, devido a noite naquele tronco. Seus passos eram lentos e trêmulos. Kelly ouvia vozes, gritos, estrondos vindo da mata escurecida da estrada. Seu coração acelerava a cada passo assim como os mesmos, pois, queria ela o mais rápido possível chegar em sua casa. Não esquecera também de Seu João, que necessitava muito de sua ajuda.
A caminhada durou cerca de 40 minutos quando finalmente Kelly chegou no Vilarejo. Desolada, ainda perplexa, sentou no chão e ficou cerca de 10 minutos pensativa. Quando se levantou, sentiu uma tontura e foi balbucionando até sua casa. Abriu a porta e percebeu que tudo estava revirado, começando com a porta de estava destrancada.
Depois de meia hora, mais lúcida, já não se importando com o que via em sua frente, foi até a casa de Seu João e chegando lá, a maior surpresa. Seu João Carneiro estava morto. Havia marcas de tiro por todo o corpo, facas, pratos e talheres por todos os cantos. Kelly novamente tomada pelo desespero gritava por socorro, mas ninguém ouvia, não havia mais vizinhos no vilarejo, todos haviam viajado.
Sem saber o que fazer com o corpo de Seu João, sem bateria no celular, dinheiro e algum vizinho para socorrer, Kelly decidiu cavar um buraco para enterrá-lo e assim o fez. Bastante exausta, prostrou-se no chão e aos prantos sua mente a convencia de que naquele momento ela era a última sobrevivente naquele sinistro vilarejo, o que não era alucinação. O legado de Seu João Carneiro havia passado para a jovem enfermeira. Kelly, a última sobrevivente de um vilarejo sinistro e misterioso.
- Francielly Fernandes
- 24/07/2019