Quero morrer
Qual o motivo para dizer a frase acima. João Bosco, um empresário de sucesso, nas horas vagas presta serviços comunitários para a sociedade, da cidade onde mora.
Já cansado e com os nervos à flor da pele, foi ao médico e este lhe receitou uma grande quantidade de remédios. Não lhe adiantando nada. A cada dia mais nervoso e mais preocupado com tudo.
Na manhã de domingo, após ter discutido com a esposa e os filhos, já alvoraçado com o nervosismo, ele pegou a camioneta e saiu para dar algumas voltas pela cidade. Não estava satisfeito e resolveu sair pela estrada de chão indo parar em várias fazendas e, já cansado, parou próximo a uma árvore. Sentando debaixo dela e ouvindo um casal de canários que ali habitava e estava em sintonia com os cânticos, disse em voz muito alta:
- Que vida amargurada. Não aguento tanta pressão em minha vida. Brigo com a esposa todos os dias, xingo os filhos, vou ao boteco e bebo todas. Saio carregado. Os meus negócios estão bem em um dia, estão mal no outro. É cobrança para todos os lados. Hoje, eu preciso dar um jeito em minha vida.
Olhando para os lados, viu alguns urubus que sobrevoavam o local. Voavam em círculos e pareciam que diziam no seu ouvido:
- Está na hora do jantar. Vamos jantar carne fresca, de cara enraivado com a vida.
Olhou para baixo e viu ser picado por umas formigas, onde ele se sentava.
- Que maldição, que vida. Retrucava em voz mais alta ainda.
Não se conformando, levantou-se e foi urinar próximo ao formigueiro. Pensou que o xixi faria uma revanche às formigas que o picaram. Ao voltar, quase pisou em um rolo de cascavel que não o picou porque o som do chocalho o alertou e ele deu um pulo para trás.
- Maldição! Exclamou com mais raiva. Não aguento mais.
Olhou para cima da árvore e viu um galho. Não pensou duas vezes, exclamando rapidamente:
- Agora sim. Estou pronto para dar um basta na vida, tão ordinária, tão ruim. Nem mesmo sei se eu existo ou se estou aqui de passagem...
Foi até o carro e pegou uma grande corda. Estava disposto a dar um basta na vida. Jogou a corda no galho, deu vários nós e fez um laço para executar o plano. Pensou que ali, as pessoas o encontrariam e os pecados seriam todos perdoados.
Fez o laço, pôs no pescoço e pulou. A surpresa foi toda que o laço desatou e ele caiu ao chão.
Mais furioso ainda, fez novamente o laço e abrolhou mais uma vez. A surpresa foi tanta, que o laço novamente desatou. Ficou surpreso com o acontecido e refletiu o motivo de não ter executado a ação.
Pensou que seria a última vez, pois apertou o nó com mais força e ao colocar a corda novamente no pescoço, sentiu que algo lhe tocava levemente os ombros. Era um toque genial, meigo, de leve, que o chamou pelo nome:
- João Bosco, João Bosco...
- Por que fazes isto?
Ele olhou rapidamente e viu a figura de uma mulher muito bonita. Com cabelos loiros cacheados, olhos verdes, uma boca tão linda que ao falar lhe trazia uma paz e um carinho todo especial.
- Por favor, não faças isto. É uma loucura tirares a vida que o Pai Todo Poderoso te deu.
- Vamos, tires esta corda do pescoço e pares para pensar.
- Tu tens tudo na vida. Tens esposa que te ama, tens filhos que te querem muito. Tens bens e dinheiro à vontade. Portas tudo o que quiseres. Por favor, tires isto do pescoço, porque os urubus acima de ti querem o jantar. Não jantam há vinte dias. Podes ser o alimento para eles. Tires, por favor.
- Que nada, que nada. Eu não tiro isto por nada. Eu nem sei quem és e o que fazes aqui. Vás embora e não me enchas o saco.
- Antes de eu ir, vou dizer-te:
- Se não tirares isto do pescoço, vás morrer. Os urubus te jantarão. Imagines a fortuna que tens?
- A esposa receberás a pensão e a metade dos bens. Ela é jovem e bonita. Rapidinho terá uma nova companhia, vivendo ao lado dela com muita felicidade e desfrutando de tua conta bancária.
- Os filhos venderão tudo o que tens. Comprarão propriedades, carros luxuosos, casarão, irão viajar para o exterior e dirão que foste o melhor pai do mundo.
- Os bens serão vendidos e irás para o fundo do poço. Lá terás a companhia dos covardes, dos mentirosos, dos adeptos das maldades.
- Não, jamais tiro isto do pescoço. Estou cansado de viver. Não aceito conselhos de ninguém. Nem mesmo de minha mulher e de meus filhos. Estou combalido com tudo. Não tenho sossego nem mesmo de querer ir para uma melhor. Deve ser muito bonito. Tantas mulheres bonitas e tantos lugares bonitos. Eu vou aproveitar.
- Não tens razão. Estás completamente equivocado com a vida. Por favor, tires a corda e vivas uma nova experiência, pois viver é a melhor função da vida.
- Não tiro não. Estou decidido.
Então o ente com quem conversava disse pela última vez:
- Tires, mais uma vez e sentirás que a vida mudará para ti. Portanto, tu não fales que não avisei.
Como um vento, o ente sumiu daquele lugar.
João Bosco, portanto, começou a refletir:
- Se eu morrer, vou perder tudo. O dinheiro, os bens, a família. Vai ter “Ricardão” na minha casa.
Parou e pensou. A vida não vale nada. Não quero isto. Vou embora e não mais farei isto.
Ficou por mais uma meia hora pensando e ouviu, novamente, a voz que lhe dizia:
- Tires isto do pescoço.
Sorrindo, disse para a voz:
- Não caio noutra. Tchau.
O tempo foi passando e João Bosco olhou de repente e viu pelo menos uns dez bois furiosos vindo a seu encontro. Não deu outra. Saiu correndo. O impacto foi tanto que desta vez a corda não soltou. Ficou dependurado e os bois o fazendo de pingue pongue.
Ele, portanto, não ouviu o que a voz lhe dizia:
- Tires isto do pescoço...