Chamada de Emergência
Já havia passado de meia-noite, quando atendi uma ligação para a central de emergência em Santa Fé. Do outro lado, uma garota falando baixo, praticamente sussurrando.
- Emergência, Diego Stanton, em que posso ajudá-la?
- Oi... me chamo Kamryn... vou ter que falar baixo... ela está aqui...
- Quem é "ela"?
- Eu não sei o nome dela... estou ligando do dormitório feminino da universidade... ela entrou no meu quarto.
Comecei a digitar no terminal à minha frente, para pegar as coordenadas da ligação pelo GPS. Efetivamente, provinha do campus do Instituto Cultural do Novo México.
- Onde você está? - Indaguei, subitamente também falando em voz baixa, como se quem quer que estivesse no quarto com a garota, pudesse me ouvir.
- Dentro do guarda-roupa - sussurrou Kamryn de volta. - As portas têm uma treliça... posso espiar por elas...
Mandei uma mensagem de texto com as coordenadas do chamado para as viaturas em patrulha na área, enquanto continuava a falar com a garota.
- O que a outra está fazendo? - Indaguei.
A resposta tardou quase 30 segundos, o que me fez pensar que o pior havia acontecido. Finalmente, ela respondeu, vagarosamente.
- Nada... não está fazendo nada... está só sentada na minha cama, de costas para o guarda-roupa, olhando para a parede...
Senti um calafrio subindo pela espinha. Decididamente, aquilo não era a atitude de uma pessoa em seu estado normal.
- Você viu se ela tem uma arma?
- Não. Não sei.
- Como ela é?
- Branca, alta, magra, cabelos longos, negros, caídos pelo meio das costas... talvez uns 30 anos de idade.
- Você já a tinha visto antes?
- Não... quero dizer, eu a vi mais cedo, no início da noite... parecia que estava me seguindo... mas depois sumiu... e agora... está aqui.
Pelo monitor, pude ver que uma das viaturas da polícia já havia entrado no campus. Agora, era só uma questão de tempo.
- Fique calma. A polícia já está chegando. Qual é o número do seu quarto?
- 46... por favor, venham logo!
Passei a última informação para a viatura e aguardei. Do outro lado da linha, silêncio. Finalmente, ouvi uma voz masculina no meu headset.
- Stanton? É você?
- Sim, quem está falando?
- Policial Aiden Jackson. Eu e meu parceiro Anthony acabamos de chegar ao quarto 46, a zeladora abriu a porta, estava trancada por dentro.
- E o que houve com a Kamryn? Você está falando do celular dela!
Um curto silêncio. Finalmente, a voz de Jackson voltou, pausadamente.
- Stanton, não há ninguém aqui. Só este celular jogado, dentro do armário.
Mordi o lábio inferior.
- Trote?
- Talvez. Mas quer saber o mais esquisito? Havia uma garota chamada Kamryn que ocupava esse quarto há uns dois semestres... ela foi fazer trilha nas montanhas Sangre de Cristo e desapareceu. O corpo nunca foi encontrado. E agora... achamos o celular dela.
O celular foi periciado posteriormente, e efetivamente pertencera à estudante desaparecida. Como ele fora parar ali, era somente o menor dos mistérios com os quais o departamento de polícia teria que lidar. A voz na gravação da chamada de emergência era de Kamryn, atestaram parentes e amigos próximos. O que teria acontecido com ela? Onde estivera todo esse tempo? E para onde fora, depois da ligação ser interrompida? E, principalmente, que papel a estranha mulher de cabelos longos tivera em toda aquela história?
Jamais recebemos qualquer resposta para todas estas perguntas.
- [07-07-2019]