A MISTERIOSA VILA 16 - DEIXANDO A FORTALEZA

O cheiro forte de cravo invadia minhas narinas dilatadas pela adrenalina correndo no meu sangue. Descemos pela escadaria ingreme serpenteando pelos degraus de pedras, os dois guardas que nos acompanhavam eram mortos vivos, pálidos, de olhos sem expressão ou brilho, braços e unhas longas.

Aquelas criaturas eram seres humanos que o capitão transformou em monstros através da bebida com cheiro de cravo.

Uma seguia a nossa frente, ao meu lado Asgard, e logo atrás, a outra segurando o grande cão negro.

A descida pela escada demorou alguns minutos, o grande túnel de pedras terminou abruptamente, em um despenhadeiro sobre o oceano. Então pude ver ali atracado balançando sobre as ondas o misterioso barco Ondartet. Isso mesmo, o sinistro barco que cruzara comigo.

Antes de atravessarmos a ponte, Asgard ordenou que apenas uma das criaturas embarcasse, a que estava com o cão foi na frente. Em seguida, caminhamos tentando nos equilibrar sobre a instável ponte que balançava insistentemente como se quisesse nos derrubar. Chegamos ao convés, e entramos na cabine, novamente o forte cheiro de cravo impregnado em sua madeira.

Em silencio a criatura desceu ao porão, ficamos apenas eu, e Asgard. Então, ali era a chance que eu teria para conversar, e tentar a imponderável ajuda do comandante, com um plano para resgatar minha Isabelle. Minha mente estava a mil, como penetrar no sombrio reduto do capitão? Como enfrentar suas bestas malévolas? Como subjuga-lo? Era tudo ou nada, era matar ou morrer.

Essa sensação me assolava a mente. Libertarei Isabelle das garras daquele maldito, nem que para isso pague com minha vida. Preciso me transformar em um soldado, mesmo meu destino sendo de pescador, tenho que assumir a missão que me fora dada. Se tiver uma morte horrenda, ainda assim, estarei feliz. Isabelle é parte de mim, sem ela serei metade, e toda a minha existência será miserável.

Sem dizer uma palavra, Asgard assumiu o controle da embarcação e saímos para alto mar. Deixando o remoto local de aparência intimidadora e sombria. Os paredões da encosta agora ficavam para trás e junto com eles, o amor da minha vida. Uma dor insistente me apertava o peito, o coração ardia, um vazio enchia o meu horizonte. Enfiei a mão no bolso, peguei um cigarro e ofereci a ele.

Enquanto o ascendia lhe disse:

- Meu amigo, somente você pode me ajudar.

Asgard olhou para mim, com um olhar firme e ao mesmo tempo pesaroso, por uns instantes ele desviou o olhar para a montanha que se afastava atras de nós, e disse algo estarrecedor.

- Não há mais como lhe ajudar, você não foi morto por minha interferência junto ao grande Mestre (assim ele o chamou).

Continua Asgard:

- Volte para casa, esqueça Isabelle, ela pertence a outro mundo.

Contesto em seguida:

- Não pode ser, Isabelle me ama.

Então, ele me fita mais uma vez e diz serenamente.

- Não pretendo lhe virar as costas, mas preciso que volte e esqueça Isabelle.

Nessas palavras, assomei um fio de esperança.